O livro "A República de Platão" é definitivamente indispensável ao estudioso da ciência jurídica. O livro todo gira em torno de uma questão essencial para o Direito: ?Que é justiça??
Direcionado à resposta da pergunta é entabulado um diálogo entre Sócrates e seus discípulos. Para alcançar a almejada resposta, no entanto, o filósofo traça observações basilares à Filosofia, investiga a Política e tangencia a Arte.
Para solucionar a questão de que seja a Justiça é necessária a leitura dos capítulos 1,2,8,9,10. Vale a pena ser justo? Ou basta parecer justo? Há diferença entre o justo e o injusto? O justo pertence ao bem? Essas são as variantes da mesma questão inicial, as quais o filósofo responde de maneira afirmativa: sim, é melhor ser justo! E associa o bem à justiça, ainda que a princípio os sofistas pregassem o contrário.
O ponto alto do livro para a Filosofia, bastante conhecido, é o da Alegoria da Caverna, no qual o mundo conhecido são sombras, e os filósofos são os que vislumbram as reais imagens, enquanto os demais, meras projeções, que crêem verdadeiras. A idéia dos arquétipos dirige a obra toda. Tudo o que existe no mundo fático existiu antes na idéia. Grosso modo, A idéia seria a fôrma da realidade.
Quanto à Política o destaque fica por conta da estrutura da cidade ideal criada pelo filósofo. Cidade que seria governada não por meros tiranos (por vezes iletrados), mas sim, pelos filósofos. Apresentada assim a idéia parece simplória e bastante visitada, mas são diversos capítulos os que se dedicam a toda a estrutura da cidade para que fosse possível que esta fosse governada por filósofos. Lida à luz do arcabouço de tentativas de implementação de regimes políticos de que dispomos hoje, não deixa de ser importante fonte de reflexão. Outro ponto que demanda meditação é o da análise das formas de governo, que são relacionadas com o temperamento do indivíduo em si ? pontos bastante contemporâneos surgirão aos olhos dos leitores.
Suas observações quanto à Arte são sempre muito perspicazes, prova de uma observação fora do comum. Sem embargo, cai no disputa entre literatura e filosofia, criticando em Homero seus personagens que desmotivariam uma conduta digna. Sobre esse assunto é melhor que se leia o primeiro capítulo de Onde encontrar sabedoria do crítico Harold Bloom.
O fraco do livro está na sua forma. A forma de diálogo retórico é bastante cansativa, uma vez que, em regra, só as falas de Sócrates têm qualquer conteúdo, enquanto a dos demais não passa de repetitivos e irritantes ?Como não??, ?Absolutamente?, ?Como não haveria de ser??, ?Sem dúvida?.
De qualquer modo é um livro imprescindível quer por sua fundamentalidade, quer por sua contemporaneidade.
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