sexta-feira, 27 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 2)





Depois de ouvir falar com seus pacientes de supostas curas pela fé, um médico de Minnesota chamado William Nolen passou um ano e meio tentando analisar os casos mais assombrosos. Havia alguma prova médica de que a enfermidade estivesse realmente presente antes da “cura”? E se existisse, tinha desaparecido realmente depois da cura? Ou era só o que diziam o milagreiro ou o paciente? Descobriu muitos casos de fraude, incluindo a primeira revelação de “cirurgia psíquica” da América. Mas não encontrou nenhum exemplo de cura de nenhuma enfermidade orgânica séria (não psicogênica). Não havia casos de cura, por exemplo, de cálculos biliares ou artrite reumatoide, muito menos de câncer ou enfermidades cardiovasculares. Quando se rompe o baço de um menino, apontava Nolen, a recuperação é completa se o submetermos a uma simples cirurgia. Mas, se levarmos o menino a um pastor milagreiro, ele morrerá em um dia. A conclusão do Dr. Nolen é a seguinte:
Quando os curandeiros tratam enfermidades orgânicas graves são responsáveis por uma angústia e infelicidade inauditas... Os curandeiros se convertem em assassinos.
Inclusive em um livro recente que defende a eficácia da oração no tratamento da enfermidade (Larry Dossey, Palavras que curam) expõe-se a preocupação de que algumas enfermidades se curam ou aliviam mais facilmente que outras. Se a oração funcionar, por que não pode curar Deus um câncer ou fazer que cresça uma extremidade perdida? Por que tanto sofrimento evitável que Deus poderia impedir tão facilmente? Por que Deus necessita que oremos? Acaso sua onisciência não o deixa saber quais curas realizar?


Dossey também começa com uma entrevista do doutor Stanley Kripner (descrito como “um dos investigadores mais autorizados da variedade de métodos de cura heterodoxa que se usam em todo mundo”): “...Os dados de investigação sobre curas a distância, apoiadas na oração, são prometedores, mas muito dispersos para permitir tirar uma conclusão firme. Isso depois de muitos trilhões de orações ao longo dos milênios”.
Como sabemos, a mente humana pode “causarcertas enfermidades, inclusive enfermidades fatais. Quando se faz acreditar em pacientes com os olhos enfaixados que lhes está tocando com uma folha de hera ou carvalho venenoso, geram uma desagradável dermatite de contato vermelha. A cura pela fé pode ajudar em enfermidades placebo ou mediadas pela mente: Um mal-estar em costas e joelhos, dores de cabeça, gagueira, úlceras, estresse, febre do feno, asma, paralisia histérica e cegueira, e falso embaraço (com cessação de períodos menstruais e inchaço abdominal). Há enfermidades nas que o estado mental pode jogar um papel chave. A maioria das curas de finais da alta Idade Média que se associam com aparições da Virgem Maria eram paralisia súbitas, de pouco tempo, parciais ou de todo o corpo. Além disso, mantinha-se em geral que só se podiam curar deste modo os crentes devotos. Não é surpreendente que a apelação a um estado mental chamado fé possa aliviar sintomas causados, ao menos em parte, por outro estado mental possivelmente não muito diferente.
Em um estudo mais controvertido, os psiquiatras da Universidade do Stanford dividiram em dois grupos a oitenta e seis mulheres com metástase de câncer de peito: animaram a um grupo a examinar seus temores ante a morte e a intervir em suas vidas enquanto o outro não recebia nenhum tipo de apoio psiquiátrico especial. Para surpresa dos investigadores, o grupo receptor de apoio não só experimentava menos dor, mas também vivia mais: Uma média de dezoito meses mais.
O diretor do estudo do Stanford, David Spiegel, especula que a causa pode ser o cortisol e outros “hormônios do estresse” que prejudicam o sistema imuno-protetor do corpo. As pessoas gravemente deprimidas, os estudantes durante períodos de exame e os que perderam algum ente querido têm um número reduzido de glóbulos brancos. Um bom apoio emocional possivelmente não tenha muito efeito em formas de câncer avançadas, mas pode servir para reduzir as possibilidades de infecções secundárias em uma pessoa já muito debilitada pela enfermidade ou seu tratamento.
Em um livro quase esquecido de 1903, Ciência cristã, Mark Twain escreveu: “O poder que tem a imaginação de um homem sobre seu corpo para curá-lo ou adoecê-lo é uma força da que não carece nenhum de nós ao nascer. Tinha-a o primeiro homem e a possuirá o último”.
Em algumas ocasiões, os pastores evangélicos, milagreiros, curandeiros e xamãs podem aliviar parte da dor e a ansiedade, ou outros sintomas de enfermidades mais graves, embora sem deter o progresso da doença. Mas este benefício não é pouco. A fé e a oração podem conseguir aliviar alguns sintomas da enfermidade e seu tratamento, mitigar o sofrimento dos afligidos e inclusive prolongar um pouco suas vidas. Ao avaliar a religião chamada Ciência Cristã, Mark Twain (seu crítico mais severo da época) aceitava entretanto que os corpos e vidas que tinha “sanado” pelo poder da sugestão compensavam de maneira mais que suficiente os que tinha matado por eliminar o tratamento médico em favor da oração.
Preguiça de pensar, isso é o que é! John Sttot disse certa vez que “Crer é pensar”. Errado! Eu digo: “Crer é não pensar, não fazer uso daquilo que nos diferencia dos demais animais, a capacidade de raciocínio, Muitos líderes religiosos convencem seus fiéis a não questionar, Dizem: “Não peçamos explicações de tudo”“. “Os céticos, em particular, estão sempre pedindo descrições prolixas de por que isto é assim ou por que aquilo é assado”. A maioria do que se pergunta é óbvio, e geralmente os argumentos de um cético são irrefutáveis. Mas o povo é burro mesmo! Por que ocupar-se em examinar essas matérias?... “A fé faz que tudo se converta na verdade.”
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Posso estar enganado, mas lá no fundo eu acredito que pastores e apóstolos como Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Sérgio Lopes e tantos outros, um dia começaram suas empreitadas, não com a intenção sacana de enriquecer, mas  para sua surpresa, vendo os “resultados” de seus fiéis sendo “curados” aparentemente de verdade, encontraram ali uma maneira de projetar seus nomes no mundo, de convencer-se de que são realmente usados por Deus, sei lá! . Suas emoções “podem” ser genuínas, sua gratidão “pode” ser sincera. Quando se critica um pastor milagreiro, os outros saem  em sua defesa. 
Esses “sucessos” de campanhas de milagres em igrejas podem ser suficientes para convencer a muitos enganadores de que realmente têm poderes divinos. Possivelmente não têm êxito todas as vezes. Os poderes vêm e vão, dizem-se a si mesmos. Têm que dissimular os momentos baixos. Se for necessário enganar um pouco em algum momento, dizem a si mesmos que servem a um propósito maior, que são vasos usados por Deus, e Ele os usa como bem entender. Isto funciona.
A maioria desses pastores só está mesmo atrás do dinheiro do povo incauto, e acredite, esta é a parte boa. Mas o que me preocupa é que apareça um novo Guru com assuntos mais importantes em jogo... Um homem atrativo, dominante, patriótico e transbordando liderança. Mais um Adolf Hitler. Todos desejamos um líder competente, incorrupto e carismático. Não perderemos a oportunidade de o apoiar, de acreditar nele, de nos sentirmos bem. A maioria dos meios de informação, editores e produtores (arrastados pelo resto de nós) fugirão do exame cético real. Ele não nos venderá orações, lugar no céu, frasquinho com óleo ungido em Jerusalém, nem nos mandará passar pela Fogueira Santa, caminhar no vale do sal. Nós não veremos suas falsas lágrimas correndo por suas caras feias. Possivelmente um líder assim, nos colocará na cabeça a iminência de uma guerra, um bode expiatório para justificar nossos atos, ou seja um ramalhete de crenças mais globais que as que temos hoje. Seja lá o que for, pode esperar, virá acompanhado de advertências sobre os perigos do ceticismo.
No famoso filme “o Mágico de Oz”, Dorothy, o espantalho, o homem de lata e o leão covarde se veem intimidados (na verdade atemorizados) pela figura oracular do Grande Oz. Mas o pequeno cão do Dorothy, Totó, abre uma cortina que o oculta e revela que o Grande Oz é na realidade uma máquina controlada por um homem baixo, gordo e assustado, tão exilado como eles naquela terra estranha.
Não sei se presto um desserviço , tentando descortinar os enganadores, assim como Totó o fez. Prefiro que as coisas aconteçam devagar, assim como aconteceram comigo. Um processo lento e doloroso, mas que depois nos dá um paz jamais alcançada na religião. Creio eu que, se não queremos que nos enganem, devemos nos ocupar disso nós mesmos. “Enquanto houver pessoas dispostas a serem enganadas, haverá os enganadores de plantão” Marcio Alves
Uma das lições mais tristes da história é esta: “Se estamos submetidos a um engano muito tempo, temos a inclinação a recusar qualquer prova de que aquilo é um engano. Encontrar a verdade deixa de nos interessar. O engano nos engoliu. Simplesmente, é muito doloroso reconhecer, inclusive para nós mesmos, que temos sido enganados por tanto tempo. Assim que se damos poder a um enganador sobre nós, quase nunca se pode recuperar. Assim, os antigos enganos tendem a persistir quando surgem os novos”.

Continua...


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