domingo, 8 de julho de 2012

O que um ateu pensa da morte




Por: Marcio Alves

Já escrevi alguns textos sobre a morte, dentre eles talvez o mais importante seja mesmo o profundo e filosófico “A morte em dois momentos”, mas sabendo que constantemente estamos sempre mudando e consequentemente atualizando nossa maneira de ver e viver a vida, resolvi então escrever o que penso hoje sobre a morte.

Um texto simples, sincero e objetivo sem o rigor do academicismo que muitas vezes atrapalha mais do que ajuda na compreensão dos leitores.

A morte, assim como o nascimento, são as duas únicas coisas que temos que passar sozinhos, embora muito mais a morte seja mesmo o momento mais angustiante e dramático de toda nossa existência, não o depois, mas aqueles momentos que a antecedem, que eu chamo de “pré-morte”, que é aquelas experiências de quase morte que muitos de nós experimentamos em algum momento de nossas vidas.

Nada mais profundo do que a experiência de ir ao velório de um amigo ou parente nosso, pois só nesses momentos, da “pré-morte” e da “morte do outro” é que são capazes de tirar o ser humano de sua anestesia diária, como trabalho, diversão, lazer, hobby e etc, levando a refletir seriamente sobre a sua própria morte.

Pois saiba meu amigo leitor, que uma coisa é você ler alguns livros e pensar sobre a morte de maneira geral, outra completamente diferente é pensar a sua própria morte. É como você ler sobre pessoas com câncer, e, um belo dia você ir ao medico para fazer exames de rotinas e sem “querer” descobrir que esta com um câncer. Consegue agora perceber a diferença?

Para aqueles que nunca enterraram seu próprio amigo, pai, mãe, filho ou irmão, ou não vivenciaram uma experiência real de “pré-morte”, vão apenas entender com o intelecto este texto, pois só aquele que já vivenciou uma das duas maneiras de estar “cara a cara” com a morte é que irá conseguir ir para além do intelecto “sentindo” de maneira visceral as palavras escritas.

Assim como o câncer que na verdade é uma morte lenta e progressiva, a própria iminência de uma possível morte por outras maneiras e experiências vem para por em xeque tudo que achávamos ser importante em nossas vidas, e para colocar uma pergunta crucial que constantemente tentamos esquivar dela: “Porque e para que viver?” “Faz sentido a vida que temos levado?” “Qual o sentido real de viver?” (As três perguntas na verdade é uma só, apenas feita de maneiras diferentes para você refletir melhor)

Não importa se você seja religioso ou ateu, pois na verdade, no fundo no fundo minha opinião é que não existe na pratica uma separação entre ateu e religioso quando falamos da morte, embora na teoria exista sim uma divisão. É que não acredito na transformação e mudança na natureza humana quando falamos da pessoa acreditar ou desacreditar na religião e/ou em Deus, pois se sendo ateu ou religioso, continuamos sendo humanos, demasiado humanos, e como os existencialistas já falavam, somos seres em angustia, sendo a angustia uma marca registrada da natureza humana.

A única diferença entre o religioso e ateu em relação à morte é no autoengano; pois o primeiro (religioso) se engana na certeza de acreditar que ao morrer vai estar no paraíso, já o ateu com seu pensamento “tranquilizador” de que “morreu acabou”, e que por isso não tem o que se preocupar e ter medo. Mas que falsa certeza esta do religioso e do ateu!

A partir do momento que o homem teve a sua consciência despertada, seja pela própria morte como a maior responsável por isto, ele já se vê mergulhado em angustia, e, por isso mesmo, nós precisamos tanto ocupar nossa mente com tudo que estiver disponível, seja trabalho, festas, e tudo o mais, é como pascal já dizia que o homem que vai caçar, ele caça um animal que ele mesmo não teria a coragem de comprar num mercado, mas ele caça para distrair sua mente, para fugir de estar só consigo mesmo, e com a realidade inevitável de sua própria morte – e este exemplo serve para tudo que fazemos na vida!

Por isto meu caro leitor que chegou até aqui, lendo “pacientemente” esta minha postagem para descobrir como um ateu encara a morte, eu lamento decepciona-lo, mas nós encaramos do mesmo jeito que qualquer outra pessoa encara: com grande angustia, medo, tristeza, dor e duvida em saber que a nossa morte não é uma possibilidade que pode ou não acontecer,  mas uma realidade e certeza absoluta de que nós que aqui estamos, vamos um dia não estar mais....para quem acha que a consciência é um dom, eu diria que tenho lá as minhas duvidas, pois acho mesmo que é uma maldição, e que se os deuses existem mesmo, são cruéis e estão se divertindo com nosso sofrimento.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...