sábado, 26 de março de 2011

Aprendendo a viver enquanto se vive


Por: Marcio Alves

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha efêmera e insignificante vida, arriscaria mais, permitir-me-ia até errar mais, sem neuroses e sem culpas, sem os fantasmas da perfeição, tendo como regra de culpa, a culpa por não ter vivido mais intensamente. Teria a simples, sabia e humilde consciência do que o que faço aqui nesta vida, aqui se esvai e termina, não se tendo mais nada para levar daqui, portanto, viver o aqui como única e singular realidade vivida e pensada de que tudo que realmente importa é o aqui, e que o lá e depois não passa de uma ilusão fantasiada da não aceitação de que somos finitos.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, não tentaria ser tão perfeito, pois perfeição só existe nos sonhos mais delirantes, lembrar-me-ia que sou humano, portanto sujeito aos erros e defeitos. Lembraria que as nossas escolhas nunca são erradas nelas mesmas, pois são escolhas, mas sempre são analisadas do ponto de vista do resultado final, que na verdade não poder ser minuciosamente determinado, pois a vida com suas contingências esta para além de ser controlada.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, não a levaria tão a sério, abriria mão de tentar resolver os problemas impossíveis de serem resolvidos, aceitaria minha impotência diante das circunstâncias da vida, não me obrigaria sempre aos deveres antes dos prazeres. Buscaria os objetivos da vida não pela posse de alcançá-los e deter-los, mas pelo prazer, sentido e significado do percurso que eles nos oferecem enquanto se caminha atrás deles.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, viajaria muito mais, contemplaria muito mais vezes o sol se por, olharia inebriado as estrelas da imensidão do céu azul, entraria e nadaria no mar a noite, deixaria os pingos da chuva me molharem sem buscar proteção, leria mais avidamente poemas, poesias e romances, ficaria horas e horas papeando com os amigos, sem se preocupar se a conversa esta sendo produtiva, pois o que importa mesmo é o estar com os amigos. Correria com os pés descalços pela praia em suas douradas areias. Brincaria com as crianças, aprenderia aos pés dos mais idosos, amaria mais uma vez minha amada com amores eternos.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, teria problemas reais, ao invés de problemas imaginários, não tentaria antecipar os percalços da vida, nem muito menos prever dores e sofrimentos, não iria mais sofrer antecipadamente com problemas que talvez nem viessem acontecer, seria mais irresponsável, não tentaria inutilmente controlar o tempo todo, minha vida.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, aproveitaria cada face da vida, sem tentar ser o que ainda não sou e negando o que já sou e fui sendo pelas trilhas da existência, cobraria menos de mim, seria criança quando criança, seria jovem quando jovem, e adulto quando for realmente um adulto, andaria horas e horas de bicicleta com meus amigos, jogaria bola com a molecada, tomaria sorvete até sentir dor de barriga, não limitaria a vida a ser simplesmente uma mera produção mecânica, fria e calculista em busca de resultados, faria coisas insignificantes, tentaria focalizar mais os pequenos momentos da vida do que os grandes, pois a vida é feita muito mais dos pequenos, e são estes que se tornam grandes devido o valor que damos a eles.

Se eu pudesse voltar novamente a viver a minha vida, viveria de tal modo que não viesse nunca me arrepender de não ter vivido, mas como não posso voltar o relógio do passado, me resta então aproveitar os anos que ainda tenho pela frente, que se não forem tragados pela morte prematura, serão com toda certeza pela velhice. Vou a partir de agora mesmo, viver os momentos que ainda me restam, de tal maneira que se depois da morte eu pudesse escolher em voltar ou não a viver a mesma vida, em todos os seus detalhes, com toda sua dor e prazer, alegria e tristeza, optaria sem pestanejar em viver.

Pois só assim, terei a plena consciência de que não fui simplesmente, em todo momento, vivido pela vida, mas antes também, a vivi!


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