segunda-feira, 30 de abril de 2012

O ateísmo nunca irá conseguir acabar com a religião!




Por Marcio Alves

Meus caros amigos “ateus-atoa”, “ateus-militantes”, “ateus-perdidos “, “ateus-agnósticos” e até “ateus-enrustidos” – o que tem de gente que no fundo é ateu, mas não sai do armário, não é brincadeira não! Sem contar os que são, mas não sabe ainda que são, ou não querem reconhecer isto –  vocês devem encarar a dura e “triste” (para os ateus) realidade de que a religião nunca irá acabar. (Porque será que a grande maioria dos ateus deseja ardentemente que os religiosos se tornem também ateus? Será que Freud explica? Risos)

Levanto, a partir de agora, nove (9) razões porque a religião nunca vai acabar:

1-Ela é a maior utopia das utopias
Promove uma visão futurista de esperança, gloria e otimismo, atribuindo ao “todo-poderoso” – aquele que nunca pode ser frustrado em seus planos – o poder de concretizar aquilo que seria impossível aos homens.
(Deus na visão do religioso é como o diretor que espera o momento certo, para intervir no filme que esta desenrolando, para por um ponto final, independente da atuação dos atores)

2-O religioso não corre o risco de um dia descobrir que sua crença não é real
Quando se aposta, geralmente se espera e se tem o resultado, seja o desejado ou não, mas no caso da religião é uma aposta que o religioso nunca descobrirá que era de fato um engano, pois se quando a pessoa morre se segue logo o nada da existência, o crente não terá do que se arrepender depois da morte. (famosa aposta do filosofo Pascal)

3-Ela torna a pessoa especial
Na visão religiosa o homem é a imagem de Deus, possui uma alma, e é alvo do cuidado de Deus, seja para ser abençoado por ele ou muitas vezes castigado como forma de repreensão.
Tire a concepção espiritual do homem, e ele se torna um mero animal sem alma que apenas racionaliza, mas que compartilha da mesma origem e o mesmo fim do animal.

4-Ela oferece respostas para a existência humana
Ela diz da onde você veio, porque você esta aqui e para onde você irá. Ou seja, ela enche o ser humano de propósito e significado. Pode até se argumenta que é falsa, que é inventada, que é ilusória, que é enganosa, mas no fundo, o que importa para o ser humano, que em geral prefere uma verdade inventada e cômoda, do que a angustiante duvida da não resposta, é a resposta em si.

5-Ela alivia a dor humana
Pois promete um paraíso eterno sem dor e sofrimento, ou seja, neste mundo você pode não ter nada, sofrer, ser injustiçado, mas lá no outro mundo, Deus irá reparar os seus danos sofridos.
Imagina uma pessoa que perdeu pessoas as quais ama, ela, se for religiosa, irá se consolar com a promessa da eternidade, onde poderá encontrar os seus parentes e amigos – mas desde que seja também da mesma religião, porque se não, se for um crente, por exemplo, irá ficar profundamente triste por crer que a pessoa a qual mais amou, mas que não era de sua religião foi parar no inferno por toda eternidade.

6-Porque os religiosos acreditam porque querem acreditar
Hoje, (sempre?) mais do que nunca, a grande busca do ser humano é pela tão sonhada e ilusória felicidade, tanto é que criamos varias ilusões, conscientes ou não, para tornar nosso mundo frio e cinzento, um pouco colorido e quente.
Portanto, a grande pergunta que a maior parte dos seres humanos fazem a si mesmo é: “isto vai trazer alegria, felicidade e/ou prazer para minha vida?” e não se é verdade ou real na existência, até porque, se ela verdadeiramente experimenta, para ela isto já se constitui uma verdade em si.
Sendo assim, os religiosos acreditam porque querem e desejam ardentemente acreditarem que é real sua experiência religiosa, e, contra isto, não há argumentos racionais que venham dissuadi-las desta vontade.

7-Porque ela é um sistema muito bem estruturado e organizado
Alguns ateus no afã de quererem “converter” (ou “desconverter”) os religiosos para sua “corrente de pensamento ateia”, distorcem os argumentos religiosos, por pura esperteza ou ignorância mesmo, limitando as mesmas em reducionismo classificatório e taxativo de somente “pura fé”, dizendo que os religiosos não utilizam à lógica e nem a razão.
Mas estão equivocados, porque toda religião possui em si mesma, isto é, em seus sistemas, lógica e razão interna, sendo coerente dentro da lógica proposta por cada religião.
Ou seja, quando um sujeito vai para alguma religião, ele não vai encontrar uma bagunça generalizada, onde cada adepto pensa ou diz de um jeito, mas sim, uma organização com sistema, doutrina, culto, hierarquia, e até uma concepção de deus própria.

8-Ela trabalha em cima do egoísmo e interesse humano
A religião, mais do que qualquer outra coisa, promove o interesse e egoísmo do ser humano, pois é um sistema de recompensa e punição que estão ligado e determinado pelos atos individuais de cada um – a famosa fala de Paulo “cada um dará conta de si mesma a Deus”.
Céu e bênçãos materiais, no caso do cristianismo, para quem for obediente, e, inferno e castigo para os desobedientes.
Ou seja, ela reforça e mantém ao mesmo tempo, o sujeito dentro do processo religioso, seja por medo da punição, ou interesse de ganhar recompensa.

9- A última e mais obvia das conclusões
Vou terminar esta postagem no nono ponto, sabendo que existem mais razões do porque “O ateísmo nunca irá conseguir acabar com a religião!” com a principal e mais simples conclusão:
Não é possível datar e nem dizer como a religião se iniciou de fato, apenas se especula, mas o que interessa mesmo é que nunca existiu (pelo menos nunca se descobriu) e não existe nenhuma sociedade sem religião, isto em milhares de anos, como os ateus pensam que agora vão conseguir acabar com a religião, e isto no mundo inteiro? (Desse jeito meus caros amigos ateus, vocês vão acabar sendo taxados de pessoas com muita mais fé do que os próprios religiosos, ou de serem pessoas ingênuas. Risos).

Texto originalmente publicado no blog http://omundodaanja.blogspot.com.br/2012/04/o-ateismo-nunca-ira-conseguir-acabar.htmlonde eu sou um dos colaboradores.

domingo, 29 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 5)

Por Edson Moura

A ambivalência do homem tem trazido benefícios e malefícios. Creio eu que mais coisas boas aconteceram desde que o homem começou a polarizar suas ideias. Mas quando o assunto é religião a coisa muda e figura. Quando falo que sou cético, logo sou levado ao extremo oposto da fé, sendo considerado como uma pessoa de má índole, filho do demônio e outros adjetivos que os crédulos gostam de inventar para estereotipar um ateu. Relativizar a Bíblia constitui-se um erro moral, enquanto alguns fundamentalistas a literalizam sem a menor parcimônia. Não entendem que, se levarem ao “pé da letra” ou não fazerem um exame cético acerca de algumas passagens, podem estar abrindo precedentes para justificar atos tão maus que transformariam os megalomaníacos e genocidas de nosso tempo em apenas mais um idealista com sua “causa justa”. Um exemplo evidente é o caso da historia de Josué logo após o Êxodo.


Que área do comportamento humano é mais ambíguo moralmente? Até as instituições populares que se propõem nos aconselhar sobre comportamento e ética parecem infestadas de contradições. Consideremos os aforismos: “A pressa é inimiga da perfeição”, mas posso contrapor este argumento com o seguinte: “O boi chega primeiro bebe água limpa". Ou, “É melhor prevenir do que remediar”, contrastando com, “Quem não arrisca não petisca”. Ou esta então: “Duas cabeças pensam melhor do que uma” sendo afrontada com “panela que muitos mexem ou sai cru ou queimada ou insossa ou salgada”.

Houve uma época em que a gente planejava ou justificava suas ações apoiando-se nesses tópicos contraditórios. Que responsabilidade moral têm os autores de provérbios? Ou o astrólogo que se apoia nos signos do sol, o leitor de cartas do tarot, o jogador de búzios, ou profeta da igreja da Benção?

A Bíblia nos ensina as seguintes lições: Miqueias nos exorta a trabalhar com justiça e amar a piedade (e a definição clara e resumida daquilo que Deus exige do seu povo: "O que ele quer é que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e que vivamos em humilde obediência ao nosso Deus" Miqueias 6.8). No Êxodo nos proíbe cometer homicídios. Em Levítico nos ordena amar a nossos vizinhos como a nós mesmos. E nos Evangelhos nos urge a amar a nossos inimigos. Pensemos entretanto nos rios de sangue vertido por ferventes seguidores dos livros em que se acham essas exortações bem intencionadas.


No livro de Josué e na segunda parte do livro de Números se celebra o assassinato maciço de homens, mulheres e meninos, até de animais domésticos, em uma cidade atrás de outra por toda a terra do Canaã. Jericó é eliminado em uma “guerra Santa”. A única justificação que se oferece para este assassinato em massa é a declaração dos assassinos (hebreus) de que, em troca de circuncidar a seus filhos e adotar uma série de rituais particulares, prometeu-se a seu antepassados muito tempo atrás que aquela terra seria deles. Não encontramos na Bíblia “sagrada”nenhum indício de arrependimento, nem um murmúrio de inquietação patriarcal ou divina ante essas campanhas de extermínio engendradas por Josué a mando de Deus. Muito pelo contrário, Josué “consagrou a todos os seres viventes ao anátema, como Jeová, o Deus do Israel, tinha-lhe ordenado” (Josué, 10, 40). E esses acontecimentos não são incidentais a não ser centrais na narração principal do Antigo Testamento. 

Há histórias similares de assassinato em massa (e no caso dos Amalequitas, genocídio) nos livros que contam a história de Saul , Ester e outras partes da Bíblia, sem sequer uma fagulha de dúvida moral. Tudo isso, certamente, foi perturbador para os teólogos liberais de uma época mais tardia, mas duvido que para os fundamentalista tenha sido.

Diz-se com razão que o diabo pode “citar as Escrituras para seu propósito”. A Bíblia está tão cheia de histórias de propósito moral contraditório que cada geração pode encontrar justificativa para quase todas as ações que propõe. Desde incesto, a escravidão e o assassinato em massa até o amor mais refinado, a valentia e o auto-sacrifício. E este transtorno moral múltiplo de personalidade não está limitado ao judaísmo e ao cristianismo. Pode-se encontrar dentro do Islã, na tradição hindu, certamente em quase todas as religiões do mundo. Assim, não são os cientistas os que são moralmente ambíguo, mas sim, todos nós seres humanos.

A Ciência tem uma obrigação de alertar o público dos perigos possíveis, sobretudo dos perigos que emanam da própria Ciência, ou que podem se agravar pela aplicação da Ciência. Talvez esta seja uma missão profética. As advertência devem ser justificadas e divulgadas, mas seu valor não pode ser maior do que o momento exige. Se estamos sujeitos ao erro, ao engano, que erremos pensando na segurança de todos.

Uma vez que nossa vida é tão efêmera, e tão única, parece crueldade de minha parte privar qualquer pessoa que seja do consolo da fé, pois em algumas áreas, a Ciência não pode jamais remediar a angústia deixada pela decepção do homem que teve os olhos abertos para a realidade. Aqueles que não podem suportar o peso do exame cético e constatação da falácia, tem a liberdade para ignorar os princípios usados por um cético para tentar provar sua” crença”. Fé é algo que se perde aos pedacinhos, e quando vemos estamos nus, desamparados e mais cegos do que antes. É neste momento que a razão entra no jogo, que a Ciência acende uma vela e ilumina o caminho que ainda teremos que percorrer.

Acredito piamente que a Ciência está no homem a mais tempo do que a religião. O homem só chegou até aqui porque usou a Ciência na caça, na pesca, no plantio, na confecção de armas e roupas. O que não entendo é como ele pode se esquecer disto. Em determinado momento nós paramos de acreditar na Ciência para dar ouvidos a falsos profetas, e com o passar dos milênios, como não poderia deixar de ser, a religião fundiu-se à evolução, confundindo os homens e fazendo-o acreditar que “crer é preciso”. 

Fim

Falsos Profetas (parte 4)

Será que escrevo essas coisas porque sou ateu? Ou sou ateu porque me interessei em aprender sobre essas coisas? A verdade é que não importa. Não sou o fim em mim mesmo. Estou em constante metamorfose e não pretendo parar. Muitos sabem que já fui um crédulo por muito tempo, mas hoje penso diferente. Alguns amigos insistem e dizer que foi alguma decepção com Deus ou cm a religião que me fizerem um crítico ferrenho da fé. Mas isso também não importa. O que importa são os resultados. Outros me chamam de reducionista, por elevar a ciência a um patamar em que tudo se explica, ora, que dizer então de quem crê em Deus como criador de tudo e de todos? Acredito que isso sim é reducionismo.


Muitos declaram que “quando Darwin formulou sua teoria da evolução era ateu e materialista” e sugerem que a evolução foi produto de um programa supostamente ateu. Confundiram infelizmente causa e efeito. Pelo que a verdadeira história conta, Darwin estava a ponto de ser ordenado ministro da Igreja da Inglaterra quando lhe apresentou a oportunidade de embarcar no HMS Beagle. Suas ideias e crenças religiosas naquele momento, (como as descreveu ele mesmo) eram as mais convencionais. Considerava totalmente plausíveis todos e cada um dos artigos de fé anglicanos. Através de sua interrogação da natureza, através da ciência, foi constatando lentamente que ao menos parte de sua religião era falsa. Por isso trocou de ponto de vista religioso. Ora! Acaso não foi exatamente o que fiz?


Outros ficaram horrorizados ante a descrição do Darwin da baixa moralidade dos selvagens, sua insuficiente capacidade de raciocínio, seu fraco poder de autodomínio. E afirmavam que: “Hoje em dia muita gente se sente escandalizada por seu racismo.” Mas não me parece que houvesse nenhum rastro de racismo no comentário do Darwin. Ele aludia aos habitantes de Terra do Fogo, que sofriam uma escassez enorme na província mais estéril e antártica da Argentina. Quando Darwin descreveu uma mulher sul-americana de origem africana que preferiu a morte a submeter-se à escravidão, anotou que só o preconceito nos impedia de ver seu desafio à mesma luz heroica que concederíamos a um ato similar da orgulhosa matriarca de uma família nobre romana. Ele mesmo quase foi expulso do Beagle pelo capitão FitzRoy por sua oposição militante ao racismo do mesmo. Darwin estava por cima da maioria de seus contemporâneos neste aspecto. E era já ateu.

Mas, enfim, mesmo que tudo fosse diferente. Mesmo que Darwin tivesse sido motivado pela raiva, pela decepção de perder sua filha, mesmo que o ódio por deus fosse a mola propulsora que arremessou Darwin para os picos da pesquisa das espécies, em que isso afeta à verdade ou falsidade da seleção natural? Thomas Jefferson e George Washington possuíam escravos; Albert Einstein e Mahatma Gandhi eram maridos e pais imperfeitos. E a lista segue indefinidamente. Todos temos defeitos e somos criaturas de nosso tempo. É justo que nos julgue com os padrões desconhecidos do futuro? Alguns costumes de nossa era serão considerados, sem dúvida, bárbaros, pelas  gerações que virão. Possivelmente nossa insistência em que os nossos filhos recém nascidos durmam sozinhos e não com seus pais; ou possivelmente a excitação de paixões nacionalistas como meio de conseguir a aprovação popular e alcançar um alto cargo político; ou permitir o suborno e a corrupção como meio de vida; ou ter animais domésticos; ou comer animais e enjaular chimpanzés para fazer experiências; ou permitir que nossos filhos cresçam na ignorância, ou até mesmo que permitimos que um dia se adorasse a um deus que não se podia ver. Não estaremos vivos, mas certamente se estivéssemos, teríamos vergonha.

De vez em quando olhamos para o passado e vemos destacar-se alguém. É o exemplo do revolucionário americano Thomas Paine, de origem inglesa. Thomas estava muito a frente de seu tempo. Opôs-se com coragem à monarquia, a aristocracia, o racismo, a escravidão, a superstição e o sexismo quando todo isso constituía a sabedoria convencional. Suas críticas à religião convencional eram implacáveis. Escreveu na idade da razão. “Quando lemos as obscenas histórias, as voluptuosas perversões, as execuções cruéis e tortuosas, o caráter vingativo e implacável que goteja do meio da Bíblia, seria mais coerente chamá-la de “o livro de um demônio que o livro de Deus, pois ele só serviu para corromper e brutalizar à humanidade”.

Ao mesmo tempo, o livro mostrava a reverência mais profunda por um Criador do universo cuja existência Thomas Paine questionava, pois era evidente ao dar uma simples olhada no mundo natural. Mas, para a maioria de seus contemporâneos, parecia impossível condenar grande parte da Bíblia e de uma vez abraçar a Deus. Os teólogos cristãos chegaram à conclusão de que ele era um bêbado, um louco ou um corrupto. O estudioso judeu David Levi proibiu a seus correligionários tocar sequer, e menos ainda ler, o livro. Paine se viu submetido a tal sofrimento por seus pontos de vista (incluindo seu encarceramento depois da Revolução francesa por ser muito coerente em sua oposição à tirania) que se transformou em um velho amargurado.

É claro que se pode dar outros contornos à teoria de Darwin e usá-la  de modo grotesco: Magnatas de voracidade insaciável podem explicar suas práticas de cortar cabeças apelando ao darwinismo social; Os nazistas e outros racistas podem alegar a “sobrevivência do mais forte” para justificar o genocídio. Mas Darwin não fez ao John D. Rockefeller nem Adolf Hitler. É muito provável que se produziram esses acontecimentos ou similares com ou sem o Darwin.

Se pudéssemos censurar Darwin, o que outros tipos de conhecimento não poderíamos censurar também? Quem exerceria a censura? Quem de nós é o bastante sábio para saber de que informação e ideias podemos prescindir com segurança e qual delas será necessária daqui dez, cem ou mil anos no futuro? Sem dúvida podemos fazer certa valoração de que tipos de máquinas e produtos vale a pena desenvolver. Em todo caso, devemos tomar estas decisões, porque não temos recursos para aplicar todas as tecnologias possíveis. Mas censurar o conhecimento, dizer às pessoas o que deve pensar, e em que se deve crer é o mesmo que abrir a porta para a castração do pensamento, levando-nos a tomar decisões absurdas e incompetentes e a cair na decadência a longo prazo. Ideólogos ferventes e regimes autoritários consideram fácil e natural impor seus pontos de vista e eliminar as alternativas.

Fica então a frase de um líder bem conhecido para você leitor refletir:

“Está emergindo uma nova era de explicação mágica do mundo, uma explicação apoiada mais na vontade que no conhecimento. Não há verdade, nem no sentido moral nem no cientista”. Adolf Hitler

Continua...

sábado, 28 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 3)

Por Edson Moura
Está muito na moda hoje em dia, pendurados em postes, ou sendo entregues por panfleteiros na saída do metrô e nos pontos de ônibus, dizeres da alguns gurus. É “pai isso” “pai sei lá o quê”, que faz amarração, trás a pessoa amada de volta, e com 100% de garantia. É só agendar uma consulta espiritual onde os búzios serão jogados e o futuro será revelado. Obviamente essa consulta não será de graça, e digo mais, não será barato. Outros evocam espíritos de pessoas mortas ou de entidades que já alcançaram a “iluminação”.

As sessões de espiritismo só se praticam em habitações em penumbra onde é muito difícil ver os visitantes fantasmagóricos. Se acendermos a luz e, em consequência, termos a oportunidade de ver o que ocorre, os espíritos desaparecem. Dizem que eles são tímidos, e algumas das vítimas acreditam. Nos laboratórios de parapsicologia do século XX, existe o “efeito observador”: pessoas descritas como psíquicos, médiuns, ou canalizadores relatam que seus poderes diminuem claramente sempre que aparecem os céticos, e desaparecem de tudo em presença de um prestidigitador preparado como. O que precisam é escuridão e credulidade. Principalmente credulidade.



Uma menina pequena que tinha colaborado em um famoso engano do século XIX (se comunicava com os espíritos e os fantasmas respondiam as perguntas com fortes golpes) confessou ao fazer-se maior que tinha sido uma impostora. Fazia ranger a articulação do dedo gordo do pé. Até demonstrou como o fazia. Mas a desculpa pública obviamente foi ignorada. Começou a circular a história de que os céticos fanáticos a tinham obrigado a fazer aquela confissão.

Teve também o caso dos britânicos que confessaram ter feito “círculos nos campos de cultivo”, figuras geométricas que apareciam nas plantações (teve até um filme do Mel Gibson). Não eram artistas extraterrestres que trabalhavam com o trigo como se fora sua maneira de comunicar-se, a não ser dois homens com uma prancha, uma corda e certa propensão a brincar. Entretanto, nem sequer quando confessaram como o tinham feito trocou a opinião dos crentes. Discutiram que podia ser que alguns círculos fossem uma fraude, mas havia muitos, e alguns pictogramas eram muito complexos. Só os podiam ter feito os extraterrestres. Pouco depois, em Grã-Bretanha, outros confessaram ser os autores. Mas, e os círculos nos campos de cultivo no estrangeiro, na Hungria por exemplo, como pode explicar-se isso? Então uns adolescentes húngaros confessaram ter copiado a ideia.


Para comprovar a credulidade de um psiquiatra especialista em abduções como extraterrestres, uma mulher se apresenta como abduzida. O terapeuta está entusiasmado com as fantasias que vai fiando. Mas, quando lhe anuncia que tudo é uma fraude, qual é sua resposta? Voltar a examinar suas notas ou seu enfoque desses casos? Não. Em dias distintos sugere: 1) Que, embora não seja consciente, em realidade foi abduzida; ou 2) Que está louca: afinal de contas foi ao psiquiatra não?  3) que ele estava consciente da brincadeira desde o começo mas se limitou a ir soltando corda até que ela se enforcasse.

Um astrólogo põe um anúncio em um jornalzinho meia boca oferecendo um horóscopo grátis. Recebe aproximadamente cento e cinquenta respostas nas que se detalha, como pedia, o lugar e data de nascimento. Todos os participantes recebem a seguir um horóscopo idêntico, junto com um questionário onde lhes pergunta sobre a precisão das afirmações. Noventa e quatro por cento dos que respondem (e noventa por cento de suas famílias e amigos) respondem que, mesmo com uma margem de erro, podiam reconhecer-se no horóscopo. Entretanto se tratava de um horóscopo redigido para um assassino em série. Se um astrólogo pode chegar tão longe sem conhecer sequer a seus clientes, imaginemos aonde poderia chegar alguém sensível aos matizes humanos e não excessivamente escrupuloso.

Por que é tão fácil sejamos enganados por adivinhos, videntes psíquicos, quiromantes, pastores evangélicos, leitores de folhas de chá, do tarot , e pessoas desta índole? Certamente, captam nossa postura, nossas expressões faciais, a maneira de vestir e as respostas a perguntas aparentemente inócuas. Alguns deles o fazem com brilhantismo, e essas são coisas das que muitos cientistas não parecem ser conscientes. Também há uma rede informática a que se assinam os psíquicos “profissionais”, com a que podem dispor dos detalhes da vida dos pacientes de seus colegas em um instante. Uma ferramenta chave é a chamada “leitura fria”, uma declaração de predisposições opostas com um equilíbrio tão tênue que qualquer poderia reconhecer algo de verdade nela. Aí vai um exemplo:

“Às vezes é extrovertido, afável, sociável, enquanto outras vezes é introvertido, precavido e reservado. Tem consciência de eu não vale à pena ser muito franco e se revelar totalmente aos outros. Prefere certa dose de mudança e variedade, e fica insatisfeito quando se vê rodeado por restrições. Disciplinado e controlado por fora, tende a ser apreensivo e inseguro por dentro. Embora sua personalidade tenha pontos fracos, acredita ser capaz de compensá-los. Tem muitas capacidades que não estão sendo usadas, que não transforma em si. Tem tendência a ser crítico contigo mesmo. Tem uma grande necessidade de gostar a outros e de se sentir admirado”.

Quase todo mundo encontra reconhecível esta caracterização e muitos consideram que os descreve perfeitamente. Ora, não é de se estranhar, todos somos humano.

A lista de “provas” que alguns terapeutas acreditam que demonstram um abuso sexual na infância reprimido, é muito larga e prosaica. Inclui transtornos do sonho, excesso de comida, anorexia e bulimia, disfunção sexual, vaga ansiedade e inclusive uma incapacidade de recordar o abuso sexual da infância. Outro livro, da Assistente Social W. Sue Blume, enumera entre outros sinais que denotam um incesto esquecido: Dores de cabeça, suspeita ou ausência de suspeita, paixão sexual excessiva ou ausência dela, e a adoração aos pais. Entre os pontos de diagnóstico para detectar famílias “desestruturadas” enumerados pelo Dr. Charles Whitfield se encontram: “aflições e dores”, sentir-se “mais vivo” em uma crise, estar ansioso frente a “figuras de autoridade” e ter “procurado aconselhamento ou psicoterapia”, sentindo entretanto “que lhe falta “alguma coisa”. Como a leitura fria, se a lista for o bastante abrangente e ampla, todo mundo terá “sintomas”.

Enumerei estes relatos, apenas para mostrar como estamos sujeitos aos enganadores, sejam eles pastores, médicos (terapeutas principalmente), gurus, pais de santo, mágicos, médiuns que psicografam cartas do além, enfim, uma gama de charlatães que usam sua capacidade incrível de raciocínio para enganar àqueles que não querem usar a sua.

O exame cético não é só um instrumento para extirpar o charlatanismo e a crueldade que oprimem os que são menos capazes proteger-se e têm mais necessidade de nossa compaixão, as pessoas a quem são oferecidas poucas alternativas de esperança. É também um lembrete em tempo, de que os comícios monstro organizados por igrejas e também por candidatos a cargos públicos, a televisão e o rádio, a imprensa, o marketing eletrônico e a tecnologia encomendada pelo correio permitem que outros tipos de mentiras sejam injetados no corpo político (para se tirar proveito dos frustrados, dos incautos e dos indefesos, numa sociedade crivada de males políticos que estão sendo tratados com ineficiência, se é que são tratados de alguma forma.

Não bastasse ter que lutar contra toda a corja de malandros que passeiam pelo congresso, desfilando com seus carros blindados mantidos com nosso dinheiro, ainda temos que enfrentar outros ladrões que enfiam a mão no bolso do cidadão inocente (burro diria), e arrancam os poucos trocados que ainda possuem, para barganhar com deus por uma benção cem vezes maior. 

Continua...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 2)





Depois de ouvir falar com seus pacientes de supostas curas pela fé, um médico de Minnesota chamado William Nolen passou um ano e meio tentando analisar os casos mais assombrosos. Havia alguma prova médica de que a enfermidade estivesse realmente presente antes da “cura”? E se existisse, tinha desaparecido realmente depois da cura? Ou era só o que diziam o milagreiro ou o paciente? Descobriu muitos casos de fraude, incluindo a primeira revelação de “cirurgia psíquica” da América. Mas não encontrou nenhum exemplo de cura de nenhuma enfermidade orgânica séria (não psicogênica). Não havia casos de cura, por exemplo, de cálculos biliares ou artrite reumatoide, muito menos de câncer ou enfermidades cardiovasculares. Quando se rompe o baço de um menino, apontava Nolen, a recuperação é completa se o submetermos a uma simples cirurgia. Mas, se levarmos o menino a um pastor milagreiro, ele morrerá em um dia. A conclusão do Dr. Nolen é a seguinte:
Quando os curandeiros tratam enfermidades orgânicas graves são responsáveis por uma angústia e infelicidade inauditas... Os curandeiros se convertem em assassinos.
Inclusive em um livro recente que defende a eficácia da oração no tratamento da enfermidade (Larry Dossey, Palavras que curam) expõe-se a preocupação de que algumas enfermidades se curam ou aliviam mais facilmente que outras. Se a oração funcionar, por que não pode curar Deus um câncer ou fazer que cresça uma extremidade perdida? Por que tanto sofrimento evitável que Deus poderia impedir tão facilmente? Por que Deus necessita que oremos? Acaso sua onisciência não o deixa saber quais curas realizar?


Dossey também começa com uma entrevista do doutor Stanley Kripner (descrito como “um dos investigadores mais autorizados da variedade de métodos de cura heterodoxa que se usam em todo mundo”): “...Os dados de investigação sobre curas a distância, apoiadas na oração, são prometedores, mas muito dispersos para permitir tirar uma conclusão firme. Isso depois de muitos trilhões de orações ao longo dos milênios”.
Como sabemos, a mente humana pode “causarcertas enfermidades, inclusive enfermidades fatais. Quando se faz acreditar em pacientes com os olhos enfaixados que lhes está tocando com uma folha de hera ou carvalho venenoso, geram uma desagradável dermatite de contato vermelha. A cura pela fé pode ajudar em enfermidades placebo ou mediadas pela mente: Um mal-estar em costas e joelhos, dores de cabeça, gagueira, úlceras, estresse, febre do feno, asma, paralisia histérica e cegueira, e falso embaraço (com cessação de períodos menstruais e inchaço abdominal). Há enfermidades nas que o estado mental pode jogar um papel chave. A maioria das curas de finais da alta Idade Média que se associam com aparições da Virgem Maria eram paralisia súbitas, de pouco tempo, parciais ou de todo o corpo. Além disso, mantinha-se em geral que só se podiam curar deste modo os crentes devotos. Não é surpreendente que a apelação a um estado mental chamado fé possa aliviar sintomas causados, ao menos em parte, por outro estado mental possivelmente não muito diferente.
Em um estudo mais controvertido, os psiquiatras da Universidade do Stanford dividiram em dois grupos a oitenta e seis mulheres com metástase de câncer de peito: animaram a um grupo a examinar seus temores ante a morte e a intervir em suas vidas enquanto o outro não recebia nenhum tipo de apoio psiquiátrico especial. Para surpresa dos investigadores, o grupo receptor de apoio não só experimentava menos dor, mas também vivia mais: Uma média de dezoito meses mais.
O diretor do estudo do Stanford, David Spiegel, especula que a causa pode ser o cortisol e outros “hormônios do estresse” que prejudicam o sistema imuno-protetor do corpo. As pessoas gravemente deprimidas, os estudantes durante períodos de exame e os que perderam algum ente querido têm um número reduzido de glóbulos brancos. Um bom apoio emocional possivelmente não tenha muito efeito em formas de câncer avançadas, mas pode servir para reduzir as possibilidades de infecções secundárias em uma pessoa já muito debilitada pela enfermidade ou seu tratamento.
Em um livro quase esquecido de 1903, Ciência cristã, Mark Twain escreveu: “O poder que tem a imaginação de um homem sobre seu corpo para curá-lo ou adoecê-lo é uma força da que não carece nenhum de nós ao nascer. Tinha-a o primeiro homem e a possuirá o último”.
Em algumas ocasiões, os pastores evangélicos, milagreiros, curandeiros e xamãs podem aliviar parte da dor e a ansiedade, ou outros sintomas de enfermidades mais graves, embora sem deter o progresso da doença. Mas este benefício não é pouco. A fé e a oração podem conseguir aliviar alguns sintomas da enfermidade e seu tratamento, mitigar o sofrimento dos afligidos e inclusive prolongar um pouco suas vidas. Ao avaliar a religião chamada Ciência Cristã, Mark Twain (seu crítico mais severo da época) aceitava entretanto que os corpos e vidas que tinha “sanado” pelo poder da sugestão compensavam de maneira mais que suficiente os que tinha matado por eliminar o tratamento médico em favor da oração.
Preguiça de pensar, isso é o que é! John Sttot disse certa vez que “Crer é pensar”. Errado! Eu digo: “Crer é não pensar, não fazer uso daquilo que nos diferencia dos demais animais, a capacidade de raciocínio, Muitos líderes religiosos convencem seus fiéis a não questionar, Dizem: “Não peçamos explicações de tudo”“. “Os céticos, em particular, estão sempre pedindo descrições prolixas de por que isto é assim ou por que aquilo é assado”. A maioria do que se pergunta é óbvio, e geralmente os argumentos de um cético são irrefutáveis. Mas o povo é burro mesmo! Por que ocupar-se em examinar essas matérias?... “A fé faz que tudo se converta na verdade.”
.
Posso estar enganado, mas lá no fundo eu acredito que pastores e apóstolos como Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Sérgio Lopes e tantos outros, um dia começaram suas empreitadas, não com a intenção sacana de enriquecer, mas  para sua surpresa, vendo os “resultados” de seus fiéis sendo “curados” aparentemente de verdade, encontraram ali uma maneira de projetar seus nomes no mundo, de convencer-se de que são realmente usados por Deus, sei lá! . Suas emoções “podem” ser genuínas, sua gratidão “pode” ser sincera. Quando se critica um pastor milagreiro, os outros saem  em sua defesa. 
Esses “sucessos” de campanhas de milagres em igrejas podem ser suficientes para convencer a muitos enganadores de que realmente têm poderes divinos. Possivelmente não têm êxito todas as vezes. Os poderes vêm e vão, dizem-se a si mesmos. Têm que dissimular os momentos baixos. Se for necessário enganar um pouco em algum momento, dizem a si mesmos que servem a um propósito maior, que são vasos usados por Deus, e Ele os usa como bem entender. Isto funciona.
A maioria desses pastores só está mesmo atrás do dinheiro do povo incauto, e acredite, esta é a parte boa. Mas o que me preocupa é que apareça um novo Guru com assuntos mais importantes em jogo... Um homem atrativo, dominante, patriótico e transbordando liderança. Mais um Adolf Hitler. Todos desejamos um líder competente, incorrupto e carismático. Não perderemos a oportunidade de o apoiar, de acreditar nele, de nos sentirmos bem. A maioria dos meios de informação, editores e produtores (arrastados pelo resto de nós) fugirão do exame cético real. Ele não nos venderá orações, lugar no céu, frasquinho com óleo ungido em Jerusalém, nem nos mandará passar pela Fogueira Santa, caminhar no vale do sal. Nós não veremos suas falsas lágrimas correndo por suas caras feias. Possivelmente um líder assim, nos colocará na cabeça a iminência de uma guerra, um bode expiatório para justificar nossos atos, ou seja um ramalhete de crenças mais globais que as que temos hoje. Seja lá o que for, pode esperar, virá acompanhado de advertências sobre os perigos do ceticismo.
No famoso filme “o Mágico de Oz”, Dorothy, o espantalho, o homem de lata e o leão covarde se veem intimidados (na verdade atemorizados) pela figura oracular do Grande Oz. Mas o pequeno cão do Dorothy, Totó, abre uma cortina que o oculta e revela que o Grande Oz é na realidade uma máquina controlada por um homem baixo, gordo e assustado, tão exilado como eles naquela terra estranha.
Não sei se presto um desserviço , tentando descortinar os enganadores, assim como Totó o fez. Prefiro que as coisas aconteçam devagar, assim como aconteceram comigo. Um processo lento e doloroso, mas que depois nos dá um paz jamais alcançada na religião. Creio eu que, se não queremos que nos enganem, devemos nos ocupar disso nós mesmos. “Enquanto houver pessoas dispostas a serem enganadas, haverá os enganadores de plantão” Marcio Alves
Uma das lições mais tristes da história é esta: “Se estamos submetidos a um engano muito tempo, temos a inclinação a recusar qualquer prova de que aquilo é um engano. Encontrar a verdade deixa de nos interessar. O engano nos engoliu. Simplesmente, é muito doloroso reconhecer, inclusive para nós mesmos, que temos sido enganados por tanto tempo. Assim que se damos poder a um enganador sobre nós, quase nunca se pode recuperar. Assim, os antigos enganos tendem a persistir quando surgem os novos”.

Continua...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 1)



Por Edson Moura 

Não sei se por falta de tempo ou por pura e simples falta de interesse, mas deixei que a poeira baixasse para falar, somente agora, de um assunto que gerou polêmica na mídia, e um alvoroço no meio evangélico. Por um tempo este tipo de incidente não me incomodou, uma vez que sou ateu, e sendo ateu, pouco deveria me importar com escândalos em igrejas evangélicas, católicas ou qualquer outro tipo de religião, crença e afins. Mas o problema é que, antes de ser ateu, sou pai, filho, e cidadão da Terra, e é triste ver às vezes como alguns amigos, familiares e até mesmo estranhos são literalmente enganados, engodados, fisgados e depois descartados por algumas igrejas e crenças.

De quem vou falar agora? Já falei uma vez do “Apóstolo Agenor Duque”, meu amigo e coautor neste blog, Marcio Alves já escreveu sobre “Bispo Edir Macedo”. Também já escrevi duras críticas à “Apóstolo Sérgio Lopes, Silas Malafaia, Valnice Milhomens, Bispa Sônia e Apóstolo Estevan Hernandes, Marco Feliciano, Reverendo João Batista e R.R. Soares, enfim, já disse e repito que para mim não passam de charlatães, picaretas, ladrões covardes, ou como se diz no meio evangélico: “Lobos em pele de cordeiro”. Poupei somente um, e esse um agora será alvo de minhas críticas também.

Não quero atacá-lo como pessoa, e sim como “líder”. Isso mesmo, em dos maiores líderes religiosos do Brasil. “Dono” de uma igreja que vem crescendo exponencialmente às custas da ingenuidade de seus fiéis, que são manipulados a tal ponto, que torna-se praticamente impossível convencê-los de que os documentos comprovando a roubalheira são verdadeiros. Pois é, (este é um de seus muitos chavões), “O King Kong” (Edir Macedo) é mico perto de Valdemiro Santiago. Ele mesmo! Valdemiro Santiago tem convencido milhões de pessoas a esvaziarem seus bolsos em troca de um milagre, de uma cura milagrosa, de um emprego em tempos de crise, de um precatório que não sai, e tantos outros desejos de seus fiéis. Meu povo sofre por que lhe falta conhecimento.

O Povo é burro! Não há mais como negar. Sofre por que quer! Parece que gosta! Bando de inúteis! Merecem mesmo que um malandro tire até seus últimos centavos! Era isso que eu dizia em alguns momentos de ira. Mas no fundo não peno assim. Quero que o povo se liberte. Quero que meu povo seja autossuficiente. Quero que meus concidadãos abram os olhos, arregacem as mangas, que trabalhem com a força de seus braços e de suas mentes para conseguir seus bens pessoais, e não que fiquem implorando a um Deus que nem sequer existe, que lhes dê proteção, prosperidade e vida. Então, só para encerrar este parágrafo e entrar realmente no texto, gostaria de salientar, e se possível gritar, que: Não se enganem mais meu povo! Valdemiro Santiago é um ladrão! Assim como todos os outros que citei acima.

Bom, feito o desabafo, quero agora trazer à você, crente ou não, ateu ou não, cético ou não, um pequeno estudo, com exemplos e tudo mais, de como escapar das garras da mentira. Inspirado por Carl Sagan, gostaria que você que chegou até aqui, e que possivelmente já está me odiando, ou amando, quem sabe, não pare a leitura. Vá até o final. Quem sabe poderá aprender algo. Quem sabe, a partir deste texto, seu senso crítico e melhor, autocrítico, aflore. E toda vez que tentarem enganar você, algumas nuances o farão questionar, o farão refletir se é possível, se existe outra hipótese, mas sempre partindo do principio lógico de que: “A ausência de evidências não é a evidência da ausência”.

Benjamim Franklin, em 1784 escreveu: “Havendo tantos transtornos que se curam sozinhos e tanta disposição na humanidade a enganar-se a gente mesmo e a outros, e como meu comprido tempo de vida me deu frequentes oportunidades de ver elogiados alguns remédios como se curassem tudo para ser deixados a seguir totalmente de lado como inúteis, não posso a não ser temer que a expectativa de grande benefício do novo método para tratar enfermidades resultará uma ilusão. Entretanto, em alguns casos esta ilusão pode ser de utilidade enquanto dure”. Mas, “cada época tem sua loucura particular”.

Diferentemente de Benjamim Franklin, a maioria dos cientistas consideram que não é sua tarefa revelar os enganos pseudocientíficos, muito menos a autossugestão sustentada apaixonadamente. Além disso, tampouco tendem a ser muito bons nisso. Os cientistas estão acostumados a lutar com a natureza que, embora possivelmente ofereça seus segredos com relutância, luta de maneira justa. Frequentemente não estão preparados para esses pastores sem escrúpulos (e pastores sem escrúpulos é redundância, eu sei) que não obedecem a uma norma de conduta. Na minha opinião, os pastores estão no negócio do engano. Praticam uma das muitas ocupações (como a atuação teatral, a publicidade, a religião burocrática e a política) em que o que um observador ingênuo poderia interpretar como mentira é aceito socialmente como se fora em serviço para o bem maior. Muitos pastores dizem que não enganam e sugerem que seus poderes lhes são dados por Deus. Alguns usam seus conhecimentos para pôr em evidencia aos enganadores que há entre seus colegas de ramo. Um ladrão se dispõe a caçar a outro ladrão.

Poucos reagem a este desafio com tanta energia como Marcio e eu, que somos considerados “decepcionados com Deus”. A sobrevivência até nossos dias do misticismo dos tempos de Noé e a superstição não me irritam tanto quanto a aceitação acrítica das obras de misticismo e superstição, religiosas ou não, que podem defraudar, humilhar e às vezes inclusive matar. Como todos os seres humanos, também sou imperfeito. Às vezes sou intolerante e condescendente e não sinto nenhuma simpatia pelas fragilidades humanas que fundamentam a credulidade. 

Pretendo trabalhar muito ainda para desmascarar alguns feiticeiros, videntes remotos, “telepatas”, pastores cheios da unção e curandeiros que extorquem seu público. Não estou preocupado se mais cedo ou mais tarde venham me chamar de “obcecado pela realidade”. Quem dera pudesse um dia dizer o mesmo de nossa nação e nossa espécie. Qualquer um há de convir comigo que as coisas andam muito bem no falso, mas, lucrativo negócio da cura mediante a fé. Quero ainda poder mostrar que os que se levantam das cadeiras de rodas e, conforme se afirma, foram curados pelo pastor, ou como dizem, Jesus, nunca tinham estado confinados a cadeiras de rodas, são contratados pelos bandidos do púlpito para florearem o “show da fé” que estão apresentando. 

Desafio qualquer pastor safado a proporcionar provas médicas sérias para dar validade a suas operações miraculosas. Convido às agências locais e federais do governo a aplicar a lei contra a fraude e a má prática médica, pois é isso que estão fazendo muitas vezes, impedindo por meio da sugestão, que o doente procure um médico de verdade. Critico aos meios de comunicação por seu proposital afastamento do tema. Desejo trazer à tona o desprezo profundo desses pastores, para com seus “pacientes fiéis” e paroquianos. Muitos são enganadores intencionais que usam a linguagem e os símbolos evangélicos cristãos ou da Nova Era para aproveitar-se da fragilidade humana. Possivelmente alguns deles tenham motivos não venais. Possivelmente... possivelmente.

Ou será que estou sendo muito radical e severo? No que se diferencia o enganador ocasional na igreja, da fraude ocasional na ciência? É razoável suspeitar de toda uma profissão porque há algumas maçãs podres? Parece-me que, como mínimo, há duas diferenças importantes. Primeiramente, ninguém duvida de que a ciência funcione de verdade, embora de vez em quando possa oferecer uma afirmação equivocada ou fraudulenta. Mas, que aconteça cura “milagrosa” graças à fé, independentemente da capacidade de o corpo curar-se naturalmente, é francamente duvidoso. Em segundo lugar, e muito importante, a ciência expõe, quando descoberta uma fraude e engano quase exclusivamente por si mesma, não espera que outras entidades o façam. É uma disciplina que se vigia a si mesmo, o que significa que os cientistas são conscientes do potencial de mentira e engano que existe. Mas quase nunca são os pastores quem revelam a fraude e engano na cura pela fé. Certamente, é surpreendente a resistência das Igrejas, sinagogas e centros de umbanda em condenar o engano demonstrável entre suas instituições.

Quando fracassa a medicina convencional, quando temos que nos enfrentar à dor e a morte, certamente estamos abertos a outras perspectivas de esperança. E, ao fim e ao cabo, há algumas enfermidades psicogênicas. Muitas podem ser quando menos mitigadas com uma mentalidade positiva. Os placebos são medicamentos fictícios, frequentemente pílulas de açúcar. As companhias de medicamentos comparam rotineiramente a eficácia de seus medicamentos com os placebos administrados a pacientes com a mesma enfermidade sem possibilidade de reconhecer a diferença entre o fármaco e o placebo. Os placebos podem ser assombrosamente efetivos, especialmente para resfriados, ansiedade, depressão, dor e sintomas que é verossímil que estejam sendo gerados pela mente. É do conhecimento de muitos que o fato de acreditar possa produzir endorfinas (pequenas proteínas do cérebro com efeitos como a morfina). Um placebo só funciona se o paciente acredita que é uma medicina efetiva. Dentro de limites estritos, parece que a esperança pode transformar-se em bioquímica.

Grandes quantidades de pessoas acreditam na existência o que se chama cura psíquica ou espiritual. Ao longo da história humana se associaram à padres, freiras e a uma ampla variedade de curandeiros, reais ou imaginários. A “escrófula”, uma espécie de tuberculose, chamava-se na Inglaterra o “mal do rei” e se supunha que só podia ser curada mediante a mão do rei. As vítimas esperavam pacientemente para que o rei as tocasse; o monarca se submetia brevemente a outra pesada obrigação de seu alto cargo e, embora não parecesse que se curasse ninguém, a prática continuou durante séculos.

Um famoso milagreiro do século XVII foi Valentino Greatracks. Descobriu, com certa surpresa, que tinha poder para curar enfermidades, incluindo resfriados, úlceras, e epilepsia. A demanda de seus serviços aumentou de tal modo que não tinha tempo para nada mais. Afirmava que todas as enfermidades eram causadas por espíritos maus, a muitos dos quais reconhecia e chamava por seu nome. 

Tão grande era a confiança nele, que o cego acreditava ver a luz que não via, o surdo imaginava que ouvia, o coxo que andava bem e o paralítico que tinha recuperado o uso de suas extremidades. A ideia de saúde fazia que o doente esquecesse por um tempo seus males, e a imaginação, dava uma falsa visão a uma classe, pelo desejo de ver, assim como acontecia um falso milagre pelo forte desejo de ser curado do doente.

Há inumeráveis casos na literatura mundial de exploração e antropologia não só de doentes curados pela fé no milagreiro, mas também de gente que se consome e morre pela maldição de um bruxo.

Em 1858 se informou de uma aparição da Virgem Maria em Lourdes, França. A  “mãe de Deus” confirmou o dogma de sua concepção imaculada que tinha sido proclamado pelo papa Pio XI só quatro anos antes. Algo assim como cem milhões de pessoas foram até Lourdes com a esperança de curar-se, muitas delas com enfermidades que a medicina da época não podia vencer. A Igreja católica romana rechaçou a autenticidade de grande quantidade das curas chamadas milagrosas. Só aceitou sessenta e cinco milagres em quase um século e meio (de tumores, tuberculose, cegueira, bronquite, paralisia e outras enfermidades, mas não, por exemplo, a regeneração de uma extremidade ou uma coluna vertebral partida). 

Das sessenta e cinco curas, a proporção é de  dez mulheres por cada homem. As possibilidades de uma cura milagrosa em Lourdes, portanto, são de uma entre um milhão. Há tantas possibilidades aproximadas de curar-se depois de uma visita a Lourdes como de ganhar na mega-sena, ou de morrer em acidente de avião... inclusive indo até Lourdes.

A taxa de remissão espontânea de todos os cânceres, agrupados, estima-se entre um para cada dez mil e um para cada cem mil. Se só cinco por cento dos que vão a Lourdes fossem ali para tratar de um câncer, deveria haver entre cinquenta e quinhentas curas “milagrosas” só de câncer. Como só três das sessenta e cinco curas testemunhadas são de câncer, a taxa de remissão espontânea em Lourdes parece ser inferior à que existiria se as vítimas ficassem em casa. Certamente, se você for um entre os sessenta e cinco curados, será muito difícil lhe convencer de que sua viagem a Lourdes não foi a causa da remissão da enfermidade. Algo similar parece, e deve acontecer nas igrejas evangélicas, centros de umbanda e afins .

No próximo texto, que não demorará muito, darei continuidade ao tema e algumas maneiras de escapar dos enganadores. Sugerirei algumas perguntas que devemos fazer e "nos fazer", toda vez que nos apresentarem uma falácia religiosa de cura por fé.

Continua...     Falsos Profetas (parte 2)                         

terça-feira, 24 de abril de 2012

“Questões acerca da morte” (parte 3)



Por Edson Moura

Na Idade Média, nossos antepassados, com suas limitações de conhecimento e ainda com suas superstições, esta por sua vez, empapada do Cristianismo cada vez mais fortalecido, começaram a se preocupar, não mais  com o destino coletivo das pessoas de sua religião, e sim com o destino de cada indivíduo em particular. Foi então que se estruturou a crença de “julgamento após a morte”, podendo o morto sofrer punições pelos pecados cometidos durante toda a vida.

Segundo a crença anterior, Jesus voltaria, conduziria os que creram até o Paraíso. Modificado então, para um “Dia do Juízo Final”, onde seriam separados os nos dos maus, cabendo aos maus a “Punição Eterna”. “Então dirá aos que estiverem à sua direita:  ‘vinde benditos d meu pai, receberdes por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo...’ Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos...’ E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.

É neste contexto que o conceito de purgatório se desenvolve dentro do catolicismo. Até então esta ideia não era estruturada como dogma, mas apenas como um elemento  procedente da crendice popular, muitas vezes associada à ideia de limbo (local onde as almas das crianças mortas sem batismo deveriam permanecer até a vinda definitiva de Cristo. O termo latino purgatorium (lugar de purificação) parece ter sido usado pela primeira vez no fim do século XIII, por Pierre Le Mangeur, em Paris.

No Concilio de Lyon, em 1274, o purgatório recebia uma primeira promulgação como dogma da Igreja católica, sendo definitivamente proclamado em 1439, no Concílio de Florença, que congregou Católicos romanos e ortodoxos Gregos.

Com o advento do purgatório, a ritualização da morte é modificada, no sentido de buscar o perdão para pecados cometidos em vida, procurando garantir um bom destino á alma que estivesse deixando o seu corpo mundano. Surge a possibilidade de interferir no “destino” do falecido, por meios das súplicas e indulgências dirigidas a Deus e aos santos, visando diminuir o tempo de expiação pelos pecados e facilitar a entrada do “morto” no Céu.

A morte vai tendo seus aspectos repulsivos mais explicados e valorizados. O corpo morto, frio e fedorento, passa a ser escondido. A imagem da morte vai se transformando, deixa de se “bela” e pública para ser feia e escondida, ou melhor dizendo, proibida. Os rituais que outrora acompanhavam a morte e o morrer, são agora esvaziados de sentido em uma maneira de evita o sofrimento pela própria morte. A morte antes aceita com naturalidade, ocorrendo em meio à tranquilidade dos familiares, passa a ser temida. A morte natural passa a ser a mote por velhice, enquanto todas as outras maneiras de morrer sinalizam a possibilidade de um castigo divino.

Feliz ou infelizmente, com o crescimento do pensamento filosófico e científico dos séculos XV e XVI, testemunhamos nova elaboração da vivência da morte. Com o advento do Iluminismo, a morte passa a ser dissociada de seus aspectos religiosos e sagrados, adotando a racionalidade como elemento norteador. A morte passa a ser vista principalmente como um evento biológico, sobre o qual deve-se buscar um maior controle por meio da Ciência e da Razão. Com isso, a estruturação de hospitais, o desenvolvimento da medicina e a busca pelo prolongamento da vida ganham mais atenção.

A relação entre morte e hospital foi se estreitando ao longo dos séculos. Os hospitais tiveram sua finalidade alterada de acordo com cada época e lugar. Antes do advento da medicina científica e tecnológica, o morrer em hospitais era destinado às pessoas pobres ou indigentes, que não possuíam condições financeiras de serem tratadas em suas próprias residências, portanto se dirigiam aos hospitais em busca de recuperação de sua saúde, ou mesmo para morrerem.

Antes do século XVIII o hospital era uma instituição de assistência aos pobres, que visava unicamente sua separação e exclusão. Na visão geral, o principal personagem do hospital não era o doente que poderia ser curado, mas sim, o pobre que estava morrendo e deveria ser assistido material e espiritualmente. O hospital seria portanto, um “morredouro”, um lugar para se morrer. O paradigma vigente nessa época era o paradigma do “cuidar”.

Cuidava-se dos doentes, mas sem a pretensão de reintegrá-los à sociedade, e enquanto estivessem vivos no aguardo da morte. O ato de cuidar estava inteiramente ligado à religiosidade, tendo o sagrado uma função asseguradora: “Cuidava-se do corpo e da alma, de maneira a facilitar à alma a sua entrada nos céus.

Com o tempo, a vivência da morte passou a ser restrita aos hospitais, transformados em locais de cura e recuperação de doentes, distanciando-os do convívio familiar durante sua recuperação ou mesmo no processo de morrer. Atualmente, século XXI, os cuidados médicos e hospitalares se pautam no paradigma de “curar”. Não basta cuidar do doente. É preciso curá-lo a todo custo e combater a morte. O paradigma do curar facilmente torna-se prisioneiro do domínio tecnológico da Medicina moderna. “Se algo pode ser feito, logo deve ser feito, essa é a missão”. Também idolatra a vida física a alimenta a tendência de usar o poder da Medicina para prolongar a vida, mesmo em condições inaceitáveis.

Esta idolatria da vida ganha forma na convicção de que, a inabilidade para curar ou evitar a morte, constitui-se uma falha na Medicina moderna. A falácia dessa lógica é pensar que a responsabilidade de curar termina quando os tratamentos estão esgotados.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"O Mundo Assombrado pelos Demônios" - Carl Sagan (A ciência vista como uma vela no escuro)


Resumo do Livro:
 
Sequestros por alienígenas, anjos e gnomos, feitiçarias e maus-olhados, curas quânticas e o poder extraordinário das pirâmides. Um dos muitos paradoxos do mundo moderno é a convivência entre o enorme sucesso da ciência e da tecnologia e a disseminação de crenças não-científicas ou pseudo-científicas nas sociedades.
 
Mitos sempre existiram. A novidade é que, no seio de nossa cultura "científica", vários deles assumem formas "modernas" e procuram na própria ciência respaldo para se sustentar (apesar de atropelarem sistematicamente os métodos científicos), produzindo as chamadas "pseudociências". Ironicamente, sua difusão é enormemente facilitada pelos mesmos meios de comunicação de massa que a ciência ajudou a criar. A ciência é "filtrada" por uma mídia em grande parte acrítica e sua parte mais importante, o seu método crítico, não chega à população em geral.

Poucos cientistas se arriscam nesse debate. O astrônomo e escritor norte-americano Carl Sagan (1934-1996), autor da série de TV Cosmos e um dos maiores divulgadores científicos de nossa época, é uma exceção. Em "O mundo assombrado pelos demônios", ele ergue o estandarte da ciência para mostrar as origens das teorias pseudocientíficas e usa-o para rebater inúmeros casos específicos, desde histórias famosas sobre raptos por alienígenas até "superstições estatísticas" em loterias e jogos de roleta.

A tese central de Sagan é que o antídoto do cidadão comum para não tomar gato por lebre (ou ciência por pseudociência) é a aliança equilibrada entre a postura cética e a abertura da mente para ideias novas. A importância dessa atitude, diz o autor, é que "as consequências do analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em qualquer outro período anterior", devido aos perigos potenciais dos avanços tecnológicos na vida cotidiana, quando mau usados. 

Desde 1996, ano da publicação do livro, os acontecimentos confirmaram e aprofundaram essa ideia: Avanços recentes como os medicamentos genéricos, alimentos transgênicos e a engenharia genética, além de fatores mais antigos, como usinas nucleares, armas nucleares, antibióticos usados indiscriminadamente e produtos que destroem a camada de ozônio exigem modificações na legislação e a participação de toda a sociedade para evitar efeitos nocivos.

Boa parte do livro contém uma coleção preciosa de desmistificações de uma série de fenômenos "inexplicáveis", incluindo previsões astrológicas, visões e raptos por discos voadores e bruxarias. Mas a obra não se resume a um compêndio de desmentidos. Trata-se de um livro vasto, que cobre uma série de aspectos das origens das pseudociências e das relações entre a ciência e a sociedade.

Pode-se distinguir, entre os 25 capítulos, cinco partes principais. Nos dois primeiros, discute-se a importância da ciência e suas características principais. A seguir, passa-se a discutir os principais fatores responsáveis pela permanência das crenças não-científicas na sociedade. As razões são certas características culturais e biológicas herdadas de nossos antepassados longínquos, fundamentais para a sobrevivência de nossa espécie, mas que podem funcionar como armadilhas para o discernimento quando não reconhecidas. Cada capítulo versa sobre um aspecto dessas armadilhas, ilustrado por vários exemplos concretos.
Por exemplo,a capacidade de reconhecer padrões, inata no ser humano e que nos faz abstrair formas em nuvens e em conjuntos de estrelas (constelações), é responsável pelas visões de canais em Marte e da face de Cristo no mesmo planeta. Alucinações, coletivas ou não, são ilustradas por visões de Óvnis e da Virgem Maria. Reconhecimento de padrões também aparecem na falsa identificação de regularidades em fenômenos aleatórios, como em especulações em jogos de loteria e de roleta.

Sendo o autor astrônomo, boa parte desses primeiros capítulos dedica-se a desmentir histórias sobre visões e raptos por seres extraterrestres, incluindo falsificações propositais - como os círculos perfeitos nas plantações da Inglaterra -, teorias conspiracionistas, como os casos Roswell e da Área 51 e disseminações de histórias através de uma mídia quase acrítica.

A maior parte dos outros assuntos é abordada em função das histórias sobre ET's. Por exemplo, são identificados alguns paralelos entre histórias de raptos por Óvnis e histórias de bruxas e de rituais satânicos - a maioria dos elementos centrais das histórias de rapto por alienígenas está, segundo o autor, presente na paranoia que queimou inúmeras mulheres acusadas de bruxaria na Idade Média. Sagan pretende mostrar com isso que os relatos de raptos por alienígenas são apenas mais um tipo de representação mítica dos medos e desejos humanos: os ETs seriam as versões modernas das bruxas, gnomos e duendes (curiosamente, o Brasil está experimentando um novo "surto" de duendes e anjos povoando o mundo, responsável pela repercussão de obras como as da escritora Mônica Buonfiglio). Alguns casos de raptos por alienígenas e de rituais satânicos são explicados a partir da memória recuperada de abusos sexuais na infância.


A obra não é um texto de filosofia da ciência ou de epistemologia e Sagan não se aprofunda nas relações entre pseudociências, mitos, medos e desejos. Essas relações são visíveis, porém, numa leitura atenciosa do livro. O maior valor dessa parte da obra está em mostrar como as diversas pseudociências não resistem a uma análise mais apurada. 

A partir do capítulo 12, a abordagem muda e o autor passa a complementar os dois primeiros capítulos com a descrição das características da ciência, as razões pelas quais a abordagem científica é a mais apropriada e a comparação com as pseudociências. Novamente Sagan não mergulha em teorias epistemológicas, mas descreve o lado prático do pensamento cético, baseado em sua experiência como cientista. 

Sagan apresenta o que chama de "kit de detecção de mentiras", uma exposição bem elaborada da essência do pensamento cético e seus instrumentos. Esta parte da obra inclui uma interessantíssima lista de cerca de 20 falácias de argumentação mais comuns (páginas 210-215), ilustradas por numerosos exemplos afinados com o cotidiano das pessoas. Por exemplo, o argumento ad hominem, "quando atacamos o argumentador e não o argumento", ou o post hoc, ergo propter hoc ("aconteceu após um fato, logo foi por ele causado").

Nos oito capítulos finais, Sagan afasta-se do combate direto à pseudociência e passa a descrever as relações entre a ciência e a sociedade. Os problemas na educação e na divulgação científica são abordados nos primeiros três. Os últimos são dedicados às relações entre ciência e política, incluindo a importância da cultura científica na formação da cidadania (o autor tem uma experiência pessoal a contar sobre isso), a relação entre instrução e liberdade, a importância da pesquisa básica e o problema das verbas para pesquisas. 

Uma agradável surpresa aparece nas páginas 324-327, quando o autor tenta passar sua enorme experiência em divulgação científica e explica ao leitor como ela deve ser feita. Qual o segredo da vulgarização científica de sucesso? Sagan é direto: "não falar para o público em geral como falaríamos com nossos colegas do ramo" é o único segredo. Entre as "armadilhas potenciais" no trabalho de divulgação, Sagan cita "a simplificação exagerada, a necessidade de ser econômico com as qualificações (e quantificações), o crédito inadequado dado aos muitos cientistas envolvidos e as distinções insuficientes traçadas entre as analogias úteis e a realidade". 

Entre os bons exemplos de divulgadores, são citados os biólogos Stephen Jay Gould e Richard Dawkins, os físicos Steven Weinberg e Kip Thorne, o químico Roald Hoffmann e os astrônomos Fred Hoyle e Isaac Asimov. 

 
O caso da África do Sul é um exemplo concreto de o quanto o analfabetismo científico pode ser trágico: o presidente Thako Mbeki recusa-se a aceitar as inúmeras pesquisas que apontam o vírus HIV como o causador da AIDS (vide a Decração de Durban) e proibiu a administração de medicamentos à população, inclusive às gestantes, cujos filhos teriam muito mais chances de serem salvos se fossem medicadas (cf. Folha de S. Paulo de 17/12/00, pág. A25). A África do Sul é um dos países mais atingidos pela AIDS, com cerca de 10% da população contaminada pelo HIV. Outro caso famoso é o da cantora Nara Leão, que tentou curar um tumor no cérebro através de medicinas alternativas que não fizeram mais do que fazer desaparecer os sintomas (um efeito perigosíssimo!). Nara morreu por causa do tumor pouco depois, em 1989.

O leitor pode tentar desvendar com seus próprios olhos os "mistérios" da ex-secretíssima base militar norte-americana conhecida como "Área 51" nas fotos de satélite disponíveis desde 1998 no site da Terraserver .

Companhia das Letras, São Paulo, 1996.
Páginas: 442


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