sábado, 2 de abril de 2011

A angustia do Ser que é angustia



Por: Marcio Alves

Somos seres marcados pela angustia do viver pelo existir na existência da vida. Sofrimento não se é opcional, mas condição sine qua non da existência. Somos todos “doentes existenciais” visto que somos mortais que nunca escaparemos da finitude da vida. Nosso corpo é uma prova cabal da vida que se esvai enquanto mais se vive. Toda vez que nos olhamos no espelho, ele ta lá, nos mostrando sem misericórdia alguma que mais cedo ou mais tarde vamos morrer. A busca neurótica pela juventude enquanto se envelhece é uma demonstração patética e delirante de seres que se iludem na esperança de se tornarem eternos.

Sabemos demais ao mesmo tempo em que sabemos de menos; nunca saberemos ao ponto de esgotar todo o mistério da vida, mas por já sabermos que sabemos que não sabemos e que a vida é uma pergunta sem uma resposta ultima e final, que todo conhecimento adquirido serve para esfregar em nossa cara nossa pequenez e ignorância diante da complexidade da vida, vivemos no vazio das incertezas.

Queremos ser verdadeiramente livres, viver uma vida de total liberdade, mas quando a vivemos, sentimos o preço que a liberdade cobra; o da solidão. Ao sentirmos o preço alto que a liberdade cobra, buscamos alguém para estar junto de nós, mas com o passar do tempo, nos sentimos prisioneiros e sem liberdade, conclusão; quando estamos casados desejamos viver sozinhos, mas ao vivermos sozinhos queremos estar novamente casados, logo, não existe solução, pois não importa com quem ou como estaremos, a verdade é que sempre estaremos angustiados, pois somos seres desejantes e carentes, que sempre nos falta alguma coisa. E neste caso, ou se é angustiado casado ou se é angustiado solteiro, o que não podemos escolher e não ser angustiados.

A consciência de que na vida somos lembrados apenas duas vezes; uma no nascimento e a outra na morte, e que depois disto estamos condenados ao total esquecimento, de que nossos nomes virarão poeiras levadas pelo vento, onde seremos totalmente apagados da lembrança de que um dia existimos, de que nossas vidas não fazem falta ao mundo, de que o universo é indiferente a nós, de que não importa o que façamos ou deixemos de fazer, a totalidade da somatória de nossas vidas é sempre zero, isto produz em nós dor, que por sua vez gera mais angustia ainda.

Ficamos angustiados ao constatarmos que podemos colher e dar afeto a um cão, que este mesmo cão nunca irá nos trair e nos abandonar, mas que não podemos confiar nas pessoas, por mais legais e bonitas que elas pareçam ser, (pois o meio social sempre cobrou e irá cobrar que sejamos politicamente corretos, mesmo que só na aparência, como se é na maioria das vezes), podem e na maioria das vezes vão, nos trair, trocar e abandonar por uma melhor oportunidade, pessoa, dinheiro ou situação. Que não importa quais sejam as pessoas que se relacionam conosco, elas sempre o faz por algum interesse escondido e disfarçado de boas intenções.

Se sofremos na época em que não se tinha abertamente liberdade para praticar o sexo, hoje sofremos por justamente termos abertamente liberdade. Pois na primeira a angustia era de querer e ser reprimidos, mas na segunda, queremos e podemos, mas a questão é; o que faremos com a liberdade sexual?

Inveja, ciúme, taras, traições, conflitos, duvidas, incertezas, vícios, paixões, desejos, obsessões, egoísmo, ganância, medo, solidão e ódio são alguns dos ingredientes que compõem a nossa natureza que é transvestida e calada, superficialmente e temporariamente, mais ainda sim, coberta e mantida pela falsa moral social. E graças ao “bom Deus” que existe nestes componentes todos, a hipocrisia, pois o que seria da sociedade se ela não existisse? Talvez, muito provavelmente, nem haveria sociedade.


Em fim, muda-se o mundo, mudam-se as pessoas, muda-se o jeito de viver a vida, mas nunca muda a angustia de si ser um ser humano, pois a vida não se é uma conta matemática que sempre no final tem uma solução, mas o contrário; não existe solução, pois a vida esta para além de qualquer vã teoria ou filosofia, inclusive a minha.

Diante disso tudo tenho poucas ou quase nenhuma certeza, mas a única que eu tenho é de que o mal não como entidade, mas como concretude existe no mundo, o que ponho em cheque é a bondade...será que existe mesmo bondade altruísta, generosa e totalmente pura de interesses?

Ou na verdade há mais maldade na bondade do que na própria maldade mesmo? Pois como diria Nelson Rodrigues “o mineiro só é solidário no câncer”. Realmente somos lobos ferozes vestidos de ovelhas, achamos que somos muito morais, bondosos e honestos, quando na verdade se é testado, cai as mascaras da moral e valores, pois são aprendidas e não instintivas como o egoísmo humano.


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