sábado, 30 de junho de 2012

Pobres Ateus por Edson Moura


                                                       
Pobre de nós ateus que, como cordeiros ingênuos, caímos em covis de lobos ferozes. Pobres de nós ateus que somos vilipendiados pelos intolerantes crentes, e não temos nem sequer a oportunidade de manifestarmos nossa opinião, pois tudo que falamos é tolice. Crentes estes que esqueceram que divino era só o mestre Jesus, e eles, assim como nós ateus, tombaremos sobre a mesma terra e apodreceremos a medida em que somos devorados pelos vermes. Vermes estes que, ao contrário do que disse o messias, acabará ao ver que nada de nós existe mais para ser consumido.


Pobre de nós ateus, que no início de nossa descrença ficávamos preocupados com o fato de nossas atitudes estarem fazendo mal aos irmãos que ainda creem. Pobre de nós ateus que não falamos para nossos filhos e para nossas velhas e crentes mães que Deus não existe mesmo. Pobre de nós ateus que nos calamos quando lá dentro, uma voz implorava para que gritássemos nos ouvidos dos crentes que nos aporrinham o saco com suas idiotices, que Jesus não salva ninguém, que céu é lugar de zumbi, e que é preciso ser por demais burro para acreditar em histórias tão absurdas como as que são contadas na Bíblia "Constantinizada".

Pobre de nós ateus que sofremos... sim, sofremos ao ver que não adianta nada falar que a ilusão da fé é o maior freio-social que já puderam impingir ao homem. Sofremos por vermos nossos irmãos... sim, irmãos, padecerem sob o jugo de pastores, padres, líderes espirituais de todos os tipos, sendo levados para um caminho de negação, flagelação de consciência, repressão de desejos humanos, (desejos estes, demasiado humanos), estoicismo em pleno século XXI e falência de intelecto.

Pobre de nós ateus, que não queremos o mal de ninguém, que procuramos viver em paz com todos, que desejamos ajudar, ou melhor, agimos em prol daqueles que necessitam de auxílio, seja ele financeiro, sentimental, ou moral. Pobre de nós ateus que não oramos para que o mundo se torne um lugar tolerável, ao contrário disto, nos empenhamos em deixar filhos melhores para este mundo e não um mundo melhor para filhos maus. Pobre de nós ateus, que não temos ajuda de cima, que não somos socorridos por deuses, que não somos protegidos por um criador, que vivemos na angustia, aguentando calado a náusea causada pelo enfrentamento da realidade.

Pobre de nós ateus, que olhamos para o céu e só vemos o negro do espaço disfarçado de azul pelas muitas camadas de atmosfera, não olhamos além disso, não esperamos ser notados nem amparados em meio aos conflitos sociais e existenciais, estamos sós, e sós permaneceremos sempre... pobre de nós ateus que não temos alma nem espírito, que não possuímos a pneuma divina em nosso interior, que nos garantirá a vida eterna ao lado do criador se bom formos.

Pobre de nós ateus, que não nos prendemos a histórias antigas, daquelas que as crianças fantasiam e acabam por usá-las como válvula de escape para seus medos interiores. Pobre de nós, que não conhecemos os mistérios do reino, que não temos sobre nós o sangue do cordeiro, que seremos atirados no lago de fogo e enxofre, apenas para satisfazer os caprichos desse deus mesquinho, apático e mimado chamado Jeová. 

Pobre de nós ateus, que desejamos que todos vivam, e vivam com abundância, enquanto que para nós é desejado apenas a morte... a pior delas, a saber, a morte da alma. Pobre de nós ateus que já ardemos em fogueiras "santas", queimados como hereges... mal sabendo eles que os hereges são todos aqueles que acendem a pira e contemplam as chamas lamberem a carne do incrédulo. Pobre de nós ateus que não cremos em nada e mesmo assim somos chamados de filhos do demônio, decepcionados, frustrados e carentes de uma experiência verdadeira de fé. Será que eles não percebem que o "demônio" aplaude e faz festa ao ver um irmão condenar o outro ao "inferno"?

 
Pobre de nós ateus, quando vemos que a loucura torna-se lógica quando a verdade torna-se indiscutível. Foi o que ocorreu também durante a Inquisição: para salvar a alma do desgraçado ateu, exigiam que ele admitisse estar possuído pelo diabo; se não admitia, era torturado para confessar e, se confessasse, era queimado na fogueira, pois só assim sua alma seria salva. Tudo muito lógico. E os inquisidores, donos da verdade, não duvidavam um só momento de que agiam conforme a vontade de Deus e faziam o bem ao torturar e matar os pobres ateus.

Pobres, sim, somos pobres ateus, mas não apreciem estas linhas com o lamentos, e sim como regozijo, pois são justamente estes pobres ateus que experimentarão as maravilhas do mundo, que errarão tentando acertar, que perder-se-ão buscando novos caminhos, que perguntarão e não obterão respostas, e essas dúvidas serão o combustível que os levarão a entender que não possuem a verdade de nossa existência, que não se conformarão com o mal deste mundo, mas antes, se transformarão pela renovação constante de seu entendimento, experimentando assim, a boa, perfeita e agradável vontade da natureza  humana.

Enfim...

Pobre de nós ateus que não temos crise de consciência (mentira, temos sim), somos ateus, e eu pelo menos, pregarei o ateísmo até que a matéria orgânica que me compõe exaura suas energias, fato conhecido como morte. Morrerei negando a existência de qualquer tipo de deus. Nego-me a desperdiçar minha última palavra com algo que não seja um alto e sonoro: "Deus não existe".  Aliás...consciência? O que é isto senão uma maneira mais educada, e polida para disfarçar a palavra...covardia.

Noreda Somu Tossan

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eu ainda faço minhas escolhas


Não me tirem as lembranças, pois elas são o combustível que faz meu coração bater. Não me tirem a dor, pois ela é o parâmetro para que eu possa avaliar minha saúde. Não me tirem a tristeza, pois somente com ela eu consigo lembrar-me de como fui feliz. Não me tirem a escuridão, porque aos poucos meus olhos desprezarão a luz.

Não me tirem a fome, para que eu não reclame do pouco que ainda tenho. Não me tirem a pobreza, pois certamente eu desprezaria o miserável. Não me façam elogios, para que o orgulho não me domine. Não deixem de me abraçar, para que a frieza não tome o lugar do calor humano.

Não me falem sempre a verdade, porque algumas mentiras nos mantêm amigos. Não me mostrem tudo, para que eu não perca a vontade de descobrir coisas novas. Não me tirem a insônia, porque dormindo eu não vejo a vida passar. Não afastem a morte de mim, porque é eminência de sua chegada que me deixa com sede de viver mais um dia.

Não furtem meus livros, porque às vezes eles são meus únicos companheiros. Não se esqueçam de mim, para que, uma vez morto, eu não deixe de existir. Não me amem demais, para que a insegurança não atormente tua alma. Não me amem de menos, para que eu não me sinta tão rejeitado.

Não tirem meus filhos, porque eu os amo muitíssimo. Não se apeguem demais às pessoas, para que quando elas se forem, você também não se vá. Não me deixem envelhecer além do necessário, para que eu não me sinta um total inútil. Não me mantenha vivo, se acaso tornar-me um peso em suas vidas.

Não se enganem comigo, pois posso não ser a pessoa que imaginam que eu seja. Não se entristeçam se um dia descobrirem que os enganei, porque eu só quis fazer o bem, escolhendo uma mentira que salva a uma verdade que destrói. Não pensem que não percebe quando estou sendo enganado, pois sei que algumas verdades são tão preciosas que devem ser escondidas até com as maiores mentiras.

Odeiem-me, e depois de me conhecer melhor, talvez me amem. É melhor do que me amarem, e ao saber como sou verdadeiramente, me odeiem. Porque sabemos quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos intimamente. Não se encantem com meu jeito engraçado, pois por traz deste rosto alegre, pode existir um coração triste, uma mente confusa e um ser miserável e mau.

Não gastem sua saúde buscando dinheiro demais, pois lá na frente, olhará para trás e verá que nada fez, e que é um velho, doente e solitário. Então gastará a fortuna acumulada em busca de saúde, amigos e paz. Mas não encontrará. Sentará e rirá de suas próprias tolices.

Não viva pensando no futuro, vivendo uma época que ainda não existe, pois certamente, ao chegar lá, começará a saborear apenas os sonhos do passado, então entenderá que deveria ter aproveitado mais o presente, amado quem estava ao seu lado e experimentado os prazeres da juventude.

E para terminar este testamento, feito numa época em que minhas saúde mental ainda não havia me abandonado, digo: Não sintam-se culpados por coisa alguma, porque todas essas escolhas foram minhas...não suas.

Edson Moura

sábado, 23 de junho de 2012

A opinião sincera de um ex-crente e atual ateu sobre a bíblia “sagrada”




Por: Marcio Alves


Chegou a hora de dar o último, o principal, porém, delicadíssimo passo, rumo à desconstrução total dos dogmas pétreos do Cristianismo ortodoxo.
Eu quero declarar em alto e bom som, minha mais sincera e transparente aversão a palavra dita de Deus.

Palavra esta que se for “literalmente literalizada”, muitos dos seus episódios “ocorridos”, torna Deus em um grande Ser desprovido de inteligência e amor.
Pois se não, vejamos:

Conto da desobediência humana, (Adão e Eva) sendo uma alternativa dada por Deus? Se for escolha, logo se segue que não deveria isto, levar o Senhor a amaldiçoar o homem, aja visto, Ele próprio ter decidido dar livre arbítrio para o mesmo. Como pode ser livre, se foi, é, e será punido?

Outro episodio que para mim é muito mais uma fabula do que realidade, embora o evento em si, seja factual, pois é constatado pela ciência que realmente houve um dilúvio, porém, as inúmeras estórias que são em diversas culturas contadas e recontadas, não passam de fabulas, ou será que imaginamos uma real possibilidade do “perfeito deus” ter de fato se arrependido de criar o homem, e, depois que o destrói, volta a se arrepender de novo, só que desta vez, por haver destruído o homem?

E a dramática e desumana estória (com “e”, e não com “h”) de Deus pedindo para Abraão sacrificar o seu único filho Isaque, como se fosse um animal, por causa de um estúpido teste, para saber se no final das contas, ele amava mesmo ou não Deus?

Oras, se isto for lido literalmente, nós temos um problema grave, pois isto revelaria um deus sádico, cruel e desumano, ou então, um Ser desprovido de inteligência e conhecimento prévio do futuro, pois não sabia Ele que é justamente “onisciente”, que Abraão o amava de verdade?
Então porque Ele precisava testar este amor?

E o caso lamentável de orgulho e exibicionismo da mais pura vaidade divina, que por causa de uma acusação inverídica do diabo, o soberano, déspota e arrogante “Deus”, resolve apostar com a vida de Jó, como se fosse um brinquedinho divino, que no final de tudo ainda, depois de delegar ao diabo poder total sobre Jó, que foi brutalmente destruído, tudo que tinha, não somente os bens materiais, mas também todos os seus filhos, ficando numa doença miserável, encontra-se com o criador, e vai simplesmente desabafar com Ele, e é, por isto, injustamente e duramente acusado pelo mesmo soberano, de disputar com Ele, quando nada sabe e nada entende?
Mas como haveria de entender, se nada viu e soube, e nem ainda se quer ficou sabendo, nem foi muito menos avisado?

E as dezenas de relatos das guerras e destruição, cometidos pelos Israelitas em nome de Deus?
Como explicar os genocídios e infanticídios que foram todos causados, por uma “motivação divina”, em que o povo Israelita se achou no direito, pois eram os escolhidos, em nome de Yavé, exterminar todos os outros povos em seu redor?

Percebe-se que é esta literalidade, glorificada e defendida com unhas e dentes pelos “guardiões da reta doutrina”, que precisamos jogar na lata do lixo, se ainda desejamos ler a bíblia sem repulsa e indignação, apenas contemplando com os olhos da alma, as suas belas e significativas metáforas, mitos e fabulas.

Mas não! A bíblia é colocada no mais alto pedestal, onde é idolatrada pelos evangélicos, tida como sagrada e reverenciada, igual ou até mesmo mais, do que o próprio Cristo ou/e Deus, podendo ser questionado tudo, menos a tal da “inspiração” e “inerrância” divina dos textos canônicos, tido como literais, daí a expressão ser mesmo o fundamentalismo xiita e talibanês dos crentes.

Mas não para por ai o meu ódio em relação à pretensa “palavra de deus”, tida como verdade absoluta do Cristianismo. Pois também no novo testamento, encontro mandamentos que são contrários a vida, como por exemplo, a demonização do corpo em favor da exaltação da alma, sendo tudo aquilo advindo e para o corpo, estigmatizado e considerado pecado, mas aquilo que for para alma é santo e puro!

Um deus avesso a vida, a alegria, a diversão e o mais delicioso prazer, com a promessa fantasiosa e alienante, de uma vida melhor no além, para o descanso da alma, mas em compensação em oposição ao corpo, que na linguagem cristã, para nada presta.

Sendo a liberdade humana restringida e limitada pelos cabrestos auto-impostos pelas inúmeras regras e mandamentos, como se a vida se resumisse a um mero comprimento de normas cinzentas e anti-alegres, onde o gozar o prazer na carne é o maior pecado, mas se esquecem que o que temos neste mundo é justamente o nosso corpo, e é com ele que podemos contar e devemos valorizar cada momento de nossa efêmera vida, não abrindo mão de nossa atual existência, por uma recompensa futura no céu que talvez não exista, e que seja apenas uma manobra política do império romano, para anestesiar o povo oprimido de sua época.

Falar em império romano, não é muito estranho ser justamente isto, que Jesus nos evangelhos, vai mais apoiar e incentivar, um total abandono por vingança, e um amor e perdão incondicional dado por aqueles que nos oprimem e nos tiranizam, ser direcionado a um povo pobre, injustiçado e indefeso pelo poder político do império?

Lembrando que o novo testamento como conhecemos hoje, foi justamente juntado e acabado pelo imperador Constantino, que talvez, pode ter adulterado muitas coisas nos mesmos, tentando levar vantagem sobre a massa oprimida por ele.

Pois sem duvida alguma, de todos os ensinamentos dados por Jesus, o mais estranho é o de amar incondicionalmente os inimigos, tiranos e assassinos, pois mesmo que se consiga tal atitude desumana, as pessoas seriam anestesiadas e impedidas de lutar, se preciso for, com suas próprias vidas, em pró de uma vida mais justa, e contra a opressora tirania.

É muito argucioso e pura esperteza mesmo, se de fato Constantino inventou e colocou na boca de Jesus, o sermão da montanha, pois tal ensinamento é uma apologia total em favor dos oprimidos, fracos e marginalizados, oferecendo aos mesmos, uma anestesia paralisante de revolta contra suas situações, sendo os mesmos levados a entender que aquilo justamente é o passaporte seguro para uma vida feliz no paraíso, mas lembrando, não é para aqui, sendo somente quando morrer, ou seja, domestica e inibi qualquer vontade de lutar contra a opressão.

Em fim, eu odeio este lado nefasto da bíblia, porém as suas profundas, significativas e ricas metáforas, fábulas, poesias, símbolos e estórias, minha mais verdadeira devoção!

Texto escrito e postado originalmente, por mim, no blog: http://cpfg.blogspot.com.br/2010/05/abominacao-sagrada-da-biblia.html    em 25/03/2010 

Com o titulo: A abominação “sagrada” da bíblia

Postagem esta que alcançou a incrível marca de 496 comentários, sendo até hoje a postagem mais comentada de todos os tempos daquele blog! Vale apena acessar e ler os comentários feitos nesta postagem!

domingo, 17 de junho de 2012

Não estava lá, mas posso imaginar





“Não estava lá, mas posso imaginar”

A imagem de crianças com suas canecas de ferro fundido nas mãos, implorando por um pouco de leite, ou migalhas de pão, não me saem da cabeça. São imagens forjadas por minha mente, eu sei, pois eu nunca presenciei tais fatos. Auschwitz-Birkenau, este é seu nome, e se, mesmo sem conhecê-la, consigo sentir o terror invadir-me ao simples som de seu nome, posso imaginar o terror que habitava os homens e mulheres que para lá foram levados.


Crianças que num dia brincavam com seus animais de estimação, faziam suas refeições, aconchegavam-se no colo de suas mães e lambiam o bigodinho deixado pelo leite morno que tomavam, no outro se viam desamparadas, famintas, carentes, absolutamente sós num lugar onde o único conforto imaginável seria a esperança de um dia adentrarem os portões do céu e descansarem nos braços de seu Deus.

Quem afagaria seus cabelos quando tivessem um pesadelo noturno? Quem daria aquele beijinho quando caíssem e de leve, esfolassem os joelhos? Quem os protegeria dos monstros que existem debaixo de suas camas?  Quanta dor foi causada a essas crianças. É nessa hora que eu me desespero com o ser humano. É nessa hora que não consigo conter a taquicardia e as lágrimas que brotam de meus olhos. Homens animais que tratam suas crianças como lixo, como descartáveis, não se dão conta de que uma espécie que não pode proteger seus filhotes, que não sente a extrema necessidade de dar carinho a eles, não merecem permanecer vivos.

O que dizer das mães, que pela força foram arrancadas de suas crias, vendo-os serem carregados para longe do lar, para a morte certa? Quem pode sentir uma fração da dor de um pai que ao observar a partida de seu filho, para sei lá onde, sente-se o mais inútil dos seres. Sem forças para lutar o que pode fazer é apenas chorar. Não estive lá, mas posso imaginar. A estupidez de um austríaco mostrou o quão insano pode ser o homem.

As mulheres chegavam aflitas dos comboios de trens para Auschwitz, Sobibór, Treblinka, Majdanec, Belzec, desesperadas por um pedaço de pão para seus filhos famintos. Imagine viajar por dois dias, 170 pessoas espremidas em um único vagão. E quando chegavam eram rapidamente selecionadas pelos médicos da SS. Entre as da esquerda ficavam as que serviriam no regime de escravidão nos campos de concentração; as da direita, juntamente com crianças,  idosos e deficientes, iam para as câmaras de gás. Carregando suas malinhas, muitas vezes após mais de um dia sem comer, sedentas e com frio, as crianças perguntavam: “mamãe, estou com fome, onde vamos?”. Provavelmente as mães não sabiam o que responder. Algumas, creio eu, num esforço descomunal para consolá-las, diziam: “Vamos tomar banho e depois jantar.” Quem conhece a história sabe que este banho seria o seu último, e refeições certamente não precisariam mais, pois os chuveiros eram adaptados para sair, não água, mas sim um gás letal.

Eles não gritavam, nem choravam, pais e filhos judeus, ciganos, negros, ou doentes mentais, tiravam as roupas, reuniam- se em circos familiares, beijavam- se e despediam-se uns dos outros, esperando por um sinal  dos homens maus da  SS que ficavam perto da vala com chicotes nas mãos. Quantas vezes me imaginei naquele cenário? Pensando e repensando qual seriai a minha reação? Será que eu imploraria por clemência? Será que me agigantaria diante dos soldados e morreria lutando por minha família? Talvez sim. Ou talvez eu permanecesse parado, como um covarde, contemplando a máquina de matar de Hitler em pleno funcionamento. Não ouviriam de mim nenhum pedido de clemência diante do pelotão de fuzilamento... talvez.

Numa dessas divagações, uma cena se materializou em minha cabeça: “Auschwitz II estava silenciosa. Podia sentir o frio cortante bater em meu rosto e os pelos de meu corpo se arrepiarem. Uma fila se estendia pelo campo, era chegada a hora, mais alguns receberam a permissão para partir. Presenciei uma família de seis pessoas, um homem e uma mulher de aproximadamente 40 anos, com duas filhas de 15 e 14 anos, dois meninos, um de 7 e outro de 5 anos apenas... a mãe abraçava o mais novo. O homem olhava sua esposa com lágrimas nos olhos. Depois o pai segurou a mão do menino de 7 anos e falou com ele ternamente, não pude ouvir, mas vi uma lágrima rolar no rosto da criança e logo depois ser contida pelo dedo polegar do pai. O menino lutava para contê-las. 

Uma série de tiros então rompeu o silêncio. De onde estava não conseguia ter uma visão clara, então dei dois passos à frente e olhei por sobre o ombro de um soldado da SS. A cena me aterrorizou. Vi os corpos das crianças se contorcendo, e os de seus pais, imóvel. Corações que até um instante pulsavam, crianças que outrora sorriam e brincavam, agora jaziam em cima de uma pilha de outros corpos que morreram antes deles.

Sempre fico abalado com esses pensamentos. Chego à triste conclusão de que não houve geração que não produzisse insanidades, não houve povo que não formasse mentes estúpidas, mas nos dias de Adolf Hitler nossa espécie foi às raias da loucura. Crianças e adultos tirados de seus lares, vidas interrompidas pelo desejo megalomaníaco de um só homem, que com extrema inteligência manipulou as mentes de uma sociedade tida como a mais culta de todas. 

Onde estavam os grandes filósofos, que não ouviram os gemidos inexprimíveis de crianças e adultos, de negros e judeus, ciganos e poloneses? Eles também se calaram! Alguns até aderiram ao pensamento de Hitler e colaboraram com a tentativa de “limpeza étnica”. Outros comentavam com orgulho que os campos de concentração era uma industria de massacre sem falhas. Desde a seleção dos que chegavam, à eliminação dos cadáveres até ao aproveitamento de seus pertences e restos mortais.
Alguns vêm esses relatos apenas como estatísticas, outros dizem nunca ter acontecido. São os filhos do cartesianismo, onde nada escapa da frieza dos números, de dados estatísticos. Notícias de terremotos que matam milhares e deixa milhões sem lar, chacinas, Tsunamis, tudo não passa de números para alguns. Para outros (poucos eu sei), notícias assim chocam, comovem e os fazem repensar seus conceitos. Trazendo uma verdade implícita em seus sentimentos: “Quando uma sociedade não conhece a fundo sua história, corre o risco de cometer os mesmos erros, talvez até maiores”.

Não estivemos lá, mas podemos imaginar.

Edson Moura

Filosofia suja e empoeirada na existência



 Por: Marcio Alves

Começo este meu texto com uma pergunta que será decisiva para compreensão e sustentação do mesmo, responda com sinceridade meu caro leitor, qual a pergunta mais importante para você: a) “Deus existe?” ou b) “Como tratar da doença do meu filho (por exemplo)?”

O que quero demonstra com isto é que na verdade a filosofia, principalmente a teologia, como filosofia abstrata da metafísica há muito perdeu sua relevância na vida diária das pessoas tidas como “comuns”, porque elas estão muito mais preocupadas com problemas “reais” e situações vivenciadas do que dilemas abstratos e/ou divagações filosóficas do tipo “o que é a verdade?” “existe liberdade?” “o que é real e/ou ilusão?” “o que é a vida?” “o que é o ser humano?” e etc.

Qual o peso de sabermos sobre questões como Deus, paraíso, vida após a morte, anjos e demônios e o sentido da vida? Estas questões irão ajudar você meu caro leitor a resolver seus problemas cotidianos? E o mais importante: por ventura você conseguirá responder a essas questões há centenas de anos debatidas pelos filósofos que não chegaram a um consenso?
Pois, mais importante do que sabermos o sentido da vida é sabermos qual o sentido que nós estamos dando para as nossas vidas!

Por isto é que a filosofia só não perderá sua relevância e importância se for aplicada aos dilemas circunstanciais da vida.
Neste sentido temos que fazer uma inversão milenar na filosofia, indo na contramão da própria filosofia, pois os assuntos tidos como mais importantes, valorizados, estudados e discutidos até então para a filosofia histórica, deixaria de ser o alvo principal para se tornar secundário, e passaríamos a valorizar muito mais dando total importância e atenção para os assuntos tidos até então como ordinários e corriqueiros, pois a vida é feita muito mais destes últimos.

É por isso que a filosofia cada vez mais tem que ser “filosofia de rua” e cada vez menos “filosofia de gabinete”, pois às vezes debatemos assuntos tão irrelevantes como: “Deus, céu, sentido da vida, vida após morte”, e esquecemo-nos do que realmente tem relevância para as pessoas mortais: “dinheiro, relacionamento, trabalho, a rotina do dia a dia”.

Sabe por que meu caro leitor? (aqui vai uma alfinetada no cristianismo histórico, pois como sempre não poderia faltar) porque há muito tempo as religiões vem enganando os seus seguidores, como sendo enganados por eles mesmos, pois no fundo por pior que seja a situação, e por mais “fé” (eu chamo de condicionamento) que o sujeito possa ter em um paraíso, em outro mundo eterno, perfeito e feliz, ninguém em sã consciência quer morrer e deixar essa existência, e sabe por quê? Por que no fundo no fundo elas mesmas não acreditam, só não se deram conta disto ainda.

É por isso que o cristianismo hoje tem sido mais do que nunca contextualizado no “chão desta terra”, sendo muito mais existencial do que espiritual, e, isto para não perder a relevância.
Já não faz mais sentido – e, muitos líderes religiosos tais como Ricardo Gondim, Caio Fabio, Ed. Rene Kivitz entre outros sabem disto – pregar mais sobre anjos, demônios, céu, inferno, apocalipse entre outras coisas que eram – e ainda são para algumas vertentes do cristianismo ortodoxo que ainda insiste em ficar paradas no tempo – tidas como mensagens principais no cultos.

Hoje, os pastores que procuram contextualizar os seus sermões, parecem mais psicólogos falando sobre relacionamentos.
É a nova roupagem da reformulação religiosa, que deixam de ser filosofia de gabinete para virarem literalmente filosofias de rua, pois é na e pela existência que é feito a vida.

Seria então o fim para sempre das religiões? Claro que não. Com esta urgente e necessária reformulação e roupagem existencial, “naturalizando” ao invés de “espiritualizar” o homem, mundo e vida, a religião dá um passo importante e decisivo para contribuição do amadurecimento e responsabilidade humana, ganhando apoio e simpatia inclusive de ateus – sendo eu, um deles.

domingo, 10 de junho de 2012

Este pastor eu recomendo!



Por: Marcio Alves

O termo “existencialismo” surgiu só em 1940 através da mídia francesa da época, para designar aspectos sociais da vida francesa na qual os intelectuais estavam intimamente ligados, principalmente, Jean Paul Sartre.
Porém, muito tempo antes, a concepção filosófica do existencialismo já havia surgido através do grande filosofo e PASTOR PROTESTANTE dinamarquês Soren A. Kierkegaard. (Que pastor fantástico!)
.
A essência do existencialismo que todos “existenciais” concordam é:
Primeiramente a existência se entende como o modo ou maneira do homem ser e se colocar no mundo.
E, em segundo lugar, em como o mundo se coloca, apresenta e se dá em conhecer ao homem, isto é, a relação mundo-homem, homem-mundo é que o existencialismo vai se ocupar.

Para se entender o existencialismo, necessário é que venhamos entender o que é essência, pois o existencialismo parte da premissa contraria ao “essencialismo”.
Para o “essencialismo” o homem “é”, além, desta essência do “ser” é o que precede a existência humana. Nesta concepção, homem já nasce pronto e determinado a “ser o que virá e/ou tornará a ser o que na verdade já se é”. Com esta concepção de homem como essência, poderíamos mencionar teorias como a psicanálise e behaviorismo que são psicologias que enxergam o homem como uma estrutura já pronta.

Já para o existencialismo é a existência do ser que nasce sem essência no mundo de possibilidades e infinidades que construirá dia a dia a essência do ser no mundo.
Ou seja, é na relação do homem com o mundo, como sujeito da historia e na historia é que o homem se constrói, constrói o seu meio, e, é construído por ele.
A problemática do existir no mundo e para o mundo é que vai constituir o grande âmago de toda filosofia existencial e dos seus filósofos existencialistas. Inclusive é justamente o existencialismo que vai criar uma nova psicologia; uma psicologia humanista existencial.

A premissa de kierkegaard na verdade é uma critica aos pressupostos de Hegel que considerava a razão como centro de sua filosofia, que era reinante até então, pois para Kierkegaard, o existir humano não poderia ser reduzido e limitado pela razão “teorizante”, que enquadra e engessa o universo do existir da vida que é viva e dinâmica em uma caixa fria de idéias e conceitos.

Vale mais, para o filosofo dinamarquês, uma vida vivida em experiências, do que pensada e analisada pelo saber teórico, pois o que constitui a existência do “ser que esta sendo” e não “que é o que é” é a vivencia da pratica do existir no mundo enquanto experimentação.
Ou seja, a existência não somente precede a essência, como também a existência do existir humano está mergulhada na experimentação do ser no mundo antes mesmo de qualquer conhecimento teórico sobre o mesmo.

sábado, 2 de junho de 2012

Porque Sartre é tão “foda”



Por: Marcio Alves

É inegável o peso que Sartre tem para todo o pensamento psicológico, e, diante  disto é que trago, apenas dando ênfase na área da psicologia, o porque que Sartre é tão foda.
Segundo o estudioso Schneider, as contribuições sartrianas foram, sem duvida, de suma e real relevância, pois até aquele dado momento, a psicologia estava muito presa ao mecanicismo e cientificismo, e o filosofo Frances Jean-Paul Sartre (1905-1980) surge com sua feroz e contundente critica e proposta de novos fundamentos aos modelos psicológicos já existentes daquela época, e, isto, através da fundamentação na fenomenologia de Jaspers, Husserl e Heidegger, mais a construção interdisciplinar entre marxismo, psicanálise e o próprio existencialismo sartriano, o que será uma constante em toda sua obra, apoiada em dois métodos principais para uma “psicologia existencial”; o biográfico e o método progressivo-regressivo. (2008 p.289-291)

Sartre entendia e até defendia a psicanálise como um método essencial que contribuía e possibilitava com seu estudo sobre o desenvolvimento infantil, numa compreensão mais abrangente dos fatores de “influenciação” do sujeito, que não era limitado como o marxismo propunha em ser apenas histórico e cultural rejeitando e negligenciando assim a historia individual, mas também através dos micro-grupos, como a família, no qual o sujeito estava inserido.

O método biográfico que Sartre propusera de investigação do sujeito é uma forma de compreensão totalizante e globalizante do individuo, visto como ser-no-mundo, partindo sempre do singular para o universal, e do universal para o singular, procurando sempre fazer uma ligação dos fatos concretos da vida individual deste sujeito, com o momento histórico e circunstancial vivido pelo mesmo

Sartre critica a maneira mecanicista pela qual as biográficas são elaboradas, em considerar apenas o lado externo do sujeito, como historicidade, culturas, época, meio educacional, hereditariedade, fatos vividos, circunstancia inserida e tudo o mais que esta relacionada com o mundo externo que o sujeito vive e se desenvolve.

Mas Sartre não apenas critica este modelo cientificista, como propõem uma nova abordagem biográfica, com a qual a psicologia será grandemente afetada e enriquecida, pois sua proposta é que o sujeito da historia, e não apenas a historia do sujeito, seja levado em conta, pois não se deve analisar apenas o contexto externo do individuo, mas antes, e, principalmente, seu mundo interno, particular e concreto, em outras palavras, o sujeito em “carne e osso”. (2008 p. 297)

 Ou seja, não é somente a biografia em quanto histórica, social e biológica que faz o individuo “ser quem ele é”, mas também, do individuo, como ser ativo, e não somente passivo, que apropria do que “fizeram ele ser quem ele é”, para “se tornar quem ele fez com o que fizeram dele ser”, atingindo sua dimensão psicológica e singular de sujeito em construção.

Portanto, o homem é construído na medida em que vai construindo, e, constrói, na medida em que vai sendo construído também, numa relação dialética com seu meio, num “eterno” vai e vem, e, por isso, Sartre estabelece o método progressivo-regressivo, que consiste compreender a realidade humana como um movimento dialético entre objetivo (historia, época, cultura, educação, trabalho e etc) e o subjetivo (assimilação do sujeito que ativo apreende internamente o que esta fora dele)
.
Concluo então, que as principais contribuições de Sartre para a psicologia foram:
                 (1) Sua critica construtiva e demolidora contra o subjetivismo, mecanicismo e mentalismo reinante na psicologia, principalmente behaviorismo e psicanálise clássica, onde o subjetivismo dava ênfase apenas ao mundo interno do sujeito, ficando assim por demais reducionista, não considerando o mundo externo e a relação deste com o sujeito, e do sujeito com este, pois o sujeito não é apenas produto do meio, mas produtor também. Já a ênfase mentalista considerava este mundo interno como uma estrutura já pronta, pré-dada e pré-determinada, negando as possibilidades abertas frente ao sujeito, e, por ultimo, a visão mecanicista do meio como único determinante do ser, que segundo Sartre, “se faz na medida em que é feito”.
                     (2) E, finalmente sua proposta de uma nova psicologia e psicanálise existencial onde considera como método principal de investigação do individuo, a dialética do contexto amplo, como sua vida privada (singular/universal), não descartando o mundo fora como de dentro, onde o sujeito no final é o responsável absoluto por fazer a síntese entre objetivo e subjetivo, entre a passividade de “ser o que o seu meio totalizante fez dele ser”, e o que ele “fez com o que fizeram dele ser”.   


Esta postagem é um pequeno resumo do trabalho acadêmico que fiz para a disciplina  teorias humanistas


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