sábado, 28 de abril de 2012

Falsos Profetas (parte 3)

Por Edson Moura
Está muito na moda hoje em dia, pendurados em postes, ou sendo entregues por panfleteiros na saída do metrô e nos pontos de ônibus, dizeres da alguns gurus. É “pai isso” “pai sei lá o quê”, que faz amarração, trás a pessoa amada de volta, e com 100% de garantia. É só agendar uma consulta espiritual onde os búzios serão jogados e o futuro será revelado. Obviamente essa consulta não será de graça, e digo mais, não será barato. Outros evocam espíritos de pessoas mortas ou de entidades que já alcançaram a “iluminação”.

As sessões de espiritismo só se praticam em habitações em penumbra onde é muito difícil ver os visitantes fantasmagóricos. Se acendermos a luz e, em consequência, termos a oportunidade de ver o que ocorre, os espíritos desaparecem. Dizem que eles são tímidos, e algumas das vítimas acreditam. Nos laboratórios de parapsicologia do século XX, existe o “efeito observador”: pessoas descritas como psíquicos, médiuns, ou canalizadores relatam que seus poderes diminuem claramente sempre que aparecem os céticos, e desaparecem de tudo em presença de um prestidigitador preparado como. O que precisam é escuridão e credulidade. Principalmente credulidade.



Uma menina pequena que tinha colaborado em um famoso engano do século XIX (se comunicava com os espíritos e os fantasmas respondiam as perguntas com fortes golpes) confessou ao fazer-se maior que tinha sido uma impostora. Fazia ranger a articulação do dedo gordo do pé. Até demonstrou como o fazia. Mas a desculpa pública obviamente foi ignorada. Começou a circular a história de que os céticos fanáticos a tinham obrigado a fazer aquela confissão.

Teve também o caso dos britânicos que confessaram ter feito “círculos nos campos de cultivo”, figuras geométricas que apareciam nas plantações (teve até um filme do Mel Gibson). Não eram artistas extraterrestres que trabalhavam com o trigo como se fora sua maneira de comunicar-se, a não ser dois homens com uma prancha, uma corda e certa propensão a brincar. Entretanto, nem sequer quando confessaram como o tinham feito trocou a opinião dos crentes. Discutiram que podia ser que alguns círculos fossem uma fraude, mas havia muitos, e alguns pictogramas eram muito complexos. Só os podiam ter feito os extraterrestres. Pouco depois, em Grã-Bretanha, outros confessaram ser os autores. Mas, e os círculos nos campos de cultivo no estrangeiro, na Hungria por exemplo, como pode explicar-se isso? Então uns adolescentes húngaros confessaram ter copiado a ideia.


Para comprovar a credulidade de um psiquiatra especialista em abduções como extraterrestres, uma mulher se apresenta como abduzida. O terapeuta está entusiasmado com as fantasias que vai fiando. Mas, quando lhe anuncia que tudo é uma fraude, qual é sua resposta? Voltar a examinar suas notas ou seu enfoque desses casos? Não. Em dias distintos sugere: 1) Que, embora não seja consciente, em realidade foi abduzida; ou 2) Que está louca: afinal de contas foi ao psiquiatra não?  3) que ele estava consciente da brincadeira desde o começo mas se limitou a ir soltando corda até que ela se enforcasse.

Um astrólogo põe um anúncio em um jornalzinho meia boca oferecendo um horóscopo grátis. Recebe aproximadamente cento e cinquenta respostas nas que se detalha, como pedia, o lugar e data de nascimento. Todos os participantes recebem a seguir um horóscopo idêntico, junto com um questionário onde lhes pergunta sobre a precisão das afirmações. Noventa e quatro por cento dos que respondem (e noventa por cento de suas famílias e amigos) respondem que, mesmo com uma margem de erro, podiam reconhecer-se no horóscopo. Entretanto se tratava de um horóscopo redigido para um assassino em série. Se um astrólogo pode chegar tão longe sem conhecer sequer a seus clientes, imaginemos aonde poderia chegar alguém sensível aos matizes humanos e não excessivamente escrupuloso.

Por que é tão fácil sejamos enganados por adivinhos, videntes psíquicos, quiromantes, pastores evangélicos, leitores de folhas de chá, do tarot , e pessoas desta índole? Certamente, captam nossa postura, nossas expressões faciais, a maneira de vestir e as respostas a perguntas aparentemente inócuas. Alguns deles o fazem com brilhantismo, e essas são coisas das que muitos cientistas não parecem ser conscientes. Também há uma rede informática a que se assinam os psíquicos “profissionais”, com a que podem dispor dos detalhes da vida dos pacientes de seus colegas em um instante. Uma ferramenta chave é a chamada “leitura fria”, uma declaração de predisposições opostas com um equilíbrio tão tênue que qualquer poderia reconhecer algo de verdade nela. Aí vai um exemplo:

“Às vezes é extrovertido, afável, sociável, enquanto outras vezes é introvertido, precavido e reservado. Tem consciência de eu não vale à pena ser muito franco e se revelar totalmente aos outros. Prefere certa dose de mudança e variedade, e fica insatisfeito quando se vê rodeado por restrições. Disciplinado e controlado por fora, tende a ser apreensivo e inseguro por dentro. Embora sua personalidade tenha pontos fracos, acredita ser capaz de compensá-los. Tem muitas capacidades que não estão sendo usadas, que não transforma em si. Tem tendência a ser crítico contigo mesmo. Tem uma grande necessidade de gostar a outros e de se sentir admirado”.

Quase todo mundo encontra reconhecível esta caracterização e muitos consideram que os descreve perfeitamente. Ora, não é de se estranhar, todos somos humano.

A lista de “provas” que alguns terapeutas acreditam que demonstram um abuso sexual na infância reprimido, é muito larga e prosaica. Inclui transtornos do sonho, excesso de comida, anorexia e bulimia, disfunção sexual, vaga ansiedade e inclusive uma incapacidade de recordar o abuso sexual da infância. Outro livro, da Assistente Social W. Sue Blume, enumera entre outros sinais que denotam um incesto esquecido: Dores de cabeça, suspeita ou ausência de suspeita, paixão sexual excessiva ou ausência dela, e a adoração aos pais. Entre os pontos de diagnóstico para detectar famílias “desestruturadas” enumerados pelo Dr. Charles Whitfield se encontram: “aflições e dores”, sentir-se “mais vivo” em uma crise, estar ansioso frente a “figuras de autoridade” e ter “procurado aconselhamento ou psicoterapia”, sentindo entretanto “que lhe falta “alguma coisa”. Como a leitura fria, se a lista for o bastante abrangente e ampla, todo mundo terá “sintomas”.

Enumerei estes relatos, apenas para mostrar como estamos sujeitos aos enganadores, sejam eles pastores, médicos (terapeutas principalmente), gurus, pais de santo, mágicos, médiuns que psicografam cartas do além, enfim, uma gama de charlatães que usam sua capacidade incrível de raciocínio para enganar àqueles que não querem usar a sua.

O exame cético não é só um instrumento para extirpar o charlatanismo e a crueldade que oprimem os que são menos capazes proteger-se e têm mais necessidade de nossa compaixão, as pessoas a quem são oferecidas poucas alternativas de esperança. É também um lembrete em tempo, de que os comícios monstro organizados por igrejas e também por candidatos a cargos públicos, a televisão e o rádio, a imprensa, o marketing eletrônico e a tecnologia encomendada pelo correio permitem que outros tipos de mentiras sejam injetados no corpo político (para se tirar proveito dos frustrados, dos incautos e dos indefesos, numa sociedade crivada de males políticos que estão sendo tratados com ineficiência, se é que são tratados de alguma forma.

Não bastasse ter que lutar contra toda a corja de malandros que passeiam pelo congresso, desfilando com seus carros blindados mantidos com nosso dinheiro, ainda temos que enfrentar outros ladrões que enfiam a mão no bolso do cidadão inocente (burro diria), e arrancam os poucos trocados que ainda possuem, para barganhar com deus por uma benção cem vezes maior. 

Continua...


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