quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Negro Drama (Sociologia das Ruas)


Negro drama, entre o sucesso e a lama, dinheiro, problemas, inveja, luxo, fama. Negro drama, cabelo crespo e a pele escura, a ferida, a chaga, a procura da cura. Negro drama, tenta ver e não vê nada, a não ser uma estrela, longe meio ofuscada.  Sente o drama, o preço, a cobrança, no amor, no ódio, a insana vingança. Negro drama, eu sei quem trama e quem tá comigo, o trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fodido. O drama da cadeia e favela, túmulo, sangue, sirene, choros e velas.

Passageiro do Brasil, São Paulo agonias, que sobrevive em meio às zorras e covardias, periferias, vielas e cortiços, você deve tá pensando o que você tem a ver com isso. Desde o início, por ouro e prata, olha quem morre, então veja você quem mata.  Recebe o mérito, a farda, quem pratica o mal, me ver, pobre, preso ou morto, já é cultural.

Histórias, registros, escritos, não é conto nem fábula, lenda ou mito. Não foi sempre dito que preto não tem vez, então olha o castelo e não, foi você quem fez cuzão, eu sou irmão dos meus trutas de batalha, eu era a carne agora sou a própria navalha. Tim..tim, um brinde pra mim, sou exemplo, de vitórias, trajetos e glórias. O dinheiro tira um homem da miséria, Mas não pode arrancar de dentro dele a favela.

São poucos que entram em campo pra vencer, a alma guarda o que a mente tenta esquecer, olho pra trás e vejo a estrada que eu trilhei, “mó cota” , quem esteve lado a lado e quem só fico na bota, entre as frases, fases e várias etapas, do quem é quem, dos mano e das minas fracas. Um Negro drama de estilo, pra ser e se for tem que ser, se temer é milho. Entre o gatilho e a tempestade, sempre a provar que sou homem e não covarde.

Que Deus me guarde, pois eu sei que ele não é neutro, vigia os ricos , mas ama os que vem do gueto, eu visto preto, por dentro e por fora, guerreiro, poeta entre o tempo e a memória. Ora, nessa história vejo o dólar, e vários quilates, falo pro mano que não morra e também não mate, o tic tac  não espera veja o ponteiro, essa estrada é venenosa e cheia de morteiro, pesadelo é  um elogio, pra quem vive na guerra a paz nunca existiu, num clima quente a minha gente sua frio, vi um pretinho e seu caderno era um fuzil.

Daria um filme!  Uma negra e uma criança nos braços, solitária na floresta de concreto e aço, veja, Olhe outra vez o rosto na multidão, a multidão é um monstro sem rosto e coração. Em São Paulo, terra de arranha-céu a garoa rasga a carne é a “torre de babel”, família brasileira, dois contra o mundo, mãe solteira de um promissor vagabundo. Luz, câmera e ação, gravando a cena vai, um bastardo, mais um filho pardo e sem pai. Ei, Senhor de engenho eu sei, bem quem você é, sozinho, “cê” num “guenta”,sozinho, “cê” num entra a pé.

Você disse que era bom e a favela ouviu, lá também tem Whiski e Red Bull, Tênis Nike e Fuzil, admito, seu carro é bonito, é, eu não sei fazer, Internet, videocassete, os “carro loco”, atrasado eu tô um pouco sim  tô, eu acho, só que, seu jogo é sujo e eu não me encaixo, eu sou problema de montão, de carnaval a carnaval, eu vim da selva, sou leão, sou demais pro seu quintal. Problema com escola eu tenho mil, “Mil fita”, inacreditável, mas seu filho me imita, no meio de vocês ele é o mais esperto, ginga e fala gíria, gíria não, dialeto. Esse não é mais seu, Hó, subiu, entrei pelo seu rádio, tomei, “cê” nem viu, “nóis é isso ou aquilo”, O quê? “Cê” não dizia, seu filho quer ser preto, há, que ironia.

Cola o pôster do 2Pac ai, que tal, que “cê” diz, sente o Negro drama  vai, tenta ser feliz, ei bacana quem te fez tão bom assim, o que “cê” deu, O que “cê” faz,  o que “cê” fez por mim? Eu recebi seu ticket, quer dizer kit de esgoto a céu aberto e parede Madeirit, de vergonha eu não morri, tô firmão, eis-me aqui, você não, você não passa quando o mar vermelho abrir, eu sou o mano homem duro do gueto, o Brow, obá, aquele louco que não pode errar, aquele que você odeia amar nesse instante, pele parda e ouço funk, e de onde vem os diamantes?... Da lama, valeu mãe... Negro drama... Drama... drama.
Autor: Mano Brow do grupo Racionais Mc's


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