sábado, 8 de janeiro de 2011

Histórias da Vida Privada Vol. 4 (da Revolução Francesa à Primeira Guerra) Philippe Ariès e Georges Duby

O artigo que aqui apresentamos é um estudo da obra "A História da Vida Privada", em 5 volumes, dos historiadores Paul Veyne (volume 1), Georges Duby (volumes 2 e 4), Philippe Ariès (volumes 3 e 4), Roger Charier (volume3), Gerard Vincent (volume 5) e Antoine Prost (volume 5).

Cada livro refere-se a vários aspectos de uma época específica. Concentramo-nos acerca do debate sobre a nudez, em seus aspectos de privacidade, intimidade e sociabilidade. Durante a história houve distintas maneiras de tratar essa questão. Tentamos, assim, fundir a argumentação  sob este motivo de maneira simples e didática.

Da Revolução Francesa à Primeira Guerra

Cento e cinqüenta anos depois, a sala de banho é transformada em santuário, fecha-se sobre a nudez dos senhores que já não toleravam ser vistos por seus criados, "madames se vestiam sozinhas e penteavam-se pessoalmente. Ela se tranca em sua toalete e é muito difícil que alguém tenha direito de entrar" (Diário de uma criada de quarto). Mostra-se que essa expulsão foi precedida por uma "relação mais exigente do indivíduo consigo mesmo". Essa exigência de mais intimidade não se manifesta apenas no banheiro, mas, também, no dormitório e em toda a casa.

Os ricos, principalmente, viviam sobre as vistas dos criados, comiam, dormiam sob os olhos deles. Acabaram por perderem as intimidades a dois (os casais). E a exigência de recusa aos criados o tranformou num intruso, no século XIX. Em 1830 começa a moda dos retratos, de famílias, de pessoas e parentes passados que morreram ou amigos. Mas esse processo favorece por fim a vulgarização e a contemplação da imagem da nudez.

Tende a modificar o equilíbrio dos modos de simulação erótica, a difundir um novo tempo de desejo, testemunha-o prestígio do nu. O legislador percebeu-o bem depressa e, desde 1850, uma lei proíbe a venda de fotos obscenas em vias públicas. Após 1880, a foto pública de amador suprime o intermediário profissional, alivia o ritual da pose, abre de par em par a vida privada para a objetiva, a partir de então ávida de imagens íntimas.

No início do século XIX, é no seio do espaço privado que o indivíduo se prepara para afrontar o olhar dos outros; ali configura-se sua apresentação em função das imagens sociais do corpo. Impõe-se nessa época a elaboração de uma estratégia de aparência, um sistema de comunhões e ritos que visam somente a esfera privada. Assim, ao cabo de décadas, a camisola de dormir deixa aos poucos de ser tolerada fora do quarto. 

Tornou-se símbolo de uma intimidade erótica e menor alusão a ela. Outro fato histórico renova então as condutas privadas: o inaudito sucesso da lingerie. A extrema sofistificação da vestimenta invisível valoriza a nudez, dando-lhe maior profundidade. Enquanto se multiplicavam os estágios do despir-se (no final do século), a acumulação erótica ainda era um tabu. As mulheres usavam corpetes para manter a silhueta esbelta e acentuar as curvas das ancas e dos seios.

No final do século XIX, o corpo já está mais livre. Os gestos e as posturas são permitidos e o corpo deixa de ser percebido como exterior à pessoa. Os prazeres do corpo nu em meio a fluidez de um banho de mar já não é tão julgado.

Autor: Philippe Ariès e Georges Duby
Origem: Nacional
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 3212
Acabamento: Brochura
Volumes: 5
Editora: Companhia das Letras

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