sábado, 2 de junho de 2012

Porque Sartre é tão “foda”



Por: Marcio Alves

É inegável o peso que Sartre tem para todo o pensamento psicológico, e, diante  disto é que trago, apenas dando ênfase na área da psicologia, o porque que Sartre é tão foda.
Segundo o estudioso Schneider, as contribuições sartrianas foram, sem duvida, de suma e real relevância, pois até aquele dado momento, a psicologia estava muito presa ao mecanicismo e cientificismo, e o filosofo Frances Jean-Paul Sartre (1905-1980) surge com sua feroz e contundente critica e proposta de novos fundamentos aos modelos psicológicos já existentes daquela época, e, isto, através da fundamentação na fenomenologia de Jaspers, Husserl e Heidegger, mais a construção interdisciplinar entre marxismo, psicanálise e o próprio existencialismo sartriano, o que será uma constante em toda sua obra, apoiada em dois métodos principais para uma “psicologia existencial”; o biográfico e o método progressivo-regressivo. (2008 p.289-291)

Sartre entendia e até defendia a psicanálise como um método essencial que contribuía e possibilitava com seu estudo sobre o desenvolvimento infantil, numa compreensão mais abrangente dos fatores de “influenciação” do sujeito, que não era limitado como o marxismo propunha em ser apenas histórico e cultural rejeitando e negligenciando assim a historia individual, mas também através dos micro-grupos, como a família, no qual o sujeito estava inserido.

O método biográfico que Sartre propusera de investigação do sujeito é uma forma de compreensão totalizante e globalizante do individuo, visto como ser-no-mundo, partindo sempre do singular para o universal, e do universal para o singular, procurando sempre fazer uma ligação dos fatos concretos da vida individual deste sujeito, com o momento histórico e circunstancial vivido pelo mesmo

Sartre critica a maneira mecanicista pela qual as biográficas são elaboradas, em considerar apenas o lado externo do sujeito, como historicidade, culturas, época, meio educacional, hereditariedade, fatos vividos, circunstancia inserida e tudo o mais que esta relacionada com o mundo externo que o sujeito vive e se desenvolve.

Mas Sartre não apenas critica este modelo cientificista, como propõem uma nova abordagem biográfica, com a qual a psicologia será grandemente afetada e enriquecida, pois sua proposta é que o sujeito da historia, e não apenas a historia do sujeito, seja levado em conta, pois não se deve analisar apenas o contexto externo do individuo, mas antes, e, principalmente, seu mundo interno, particular e concreto, em outras palavras, o sujeito em “carne e osso”. (2008 p. 297)

 Ou seja, não é somente a biografia em quanto histórica, social e biológica que faz o individuo “ser quem ele é”, mas também, do individuo, como ser ativo, e não somente passivo, que apropria do que “fizeram ele ser quem ele é”, para “se tornar quem ele fez com o que fizeram dele ser”, atingindo sua dimensão psicológica e singular de sujeito em construção.

Portanto, o homem é construído na medida em que vai construindo, e, constrói, na medida em que vai sendo construído também, numa relação dialética com seu meio, num “eterno” vai e vem, e, por isso, Sartre estabelece o método progressivo-regressivo, que consiste compreender a realidade humana como um movimento dialético entre objetivo (historia, época, cultura, educação, trabalho e etc) e o subjetivo (assimilação do sujeito que ativo apreende internamente o que esta fora dele)
.
Concluo então, que as principais contribuições de Sartre para a psicologia foram:
                 (1) Sua critica construtiva e demolidora contra o subjetivismo, mecanicismo e mentalismo reinante na psicologia, principalmente behaviorismo e psicanálise clássica, onde o subjetivismo dava ênfase apenas ao mundo interno do sujeito, ficando assim por demais reducionista, não considerando o mundo externo e a relação deste com o sujeito, e do sujeito com este, pois o sujeito não é apenas produto do meio, mas produtor também. Já a ênfase mentalista considerava este mundo interno como uma estrutura já pronta, pré-dada e pré-determinada, negando as possibilidades abertas frente ao sujeito, e, por ultimo, a visão mecanicista do meio como único determinante do ser, que segundo Sartre, “se faz na medida em que é feito”.
                     (2) E, finalmente sua proposta de uma nova psicologia e psicanálise existencial onde considera como método principal de investigação do individuo, a dialética do contexto amplo, como sua vida privada (singular/universal), não descartando o mundo fora como de dentro, onde o sujeito no final é o responsável absoluto por fazer a síntese entre objetivo e subjetivo, entre a passividade de “ser o que o seu meio totalizante fez dele ser”, e o que ele “fez com o que fizeram dele ser”.   


Esta postagem é um pequeno resumo do trabalho acadêmico que fiz para a disciplina  teorias humanistas

Um comentário:

  1. Muito boa sua síntese. Me surgiu uma questão: vi muito de Heidegger no artigo sobre o método biográfico de Sartre, a diferença fora o modo com que Sartre parece ter tratado do assunto. Ainda não li Sartre propriamente, comecei agora a entrar em contato com as ideias dele. Deste modo, penso eu, não estaria Sartre repetindo o que Heidegger postula sobre ser indissociável do mundo, com a diferença de mesclar com a ideia de biografia e, a partir disso, "gerar" um método? Além disso, qual obra de Sartre trata com mais especificidade deste assunto? Agradeço desde já, até mais!

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